O vazamento de óleo na costa brasileira voltou a incomodar moradores do litoral cearense, onde o problema reapareceu na madrugada desta segunda-feira (30). Novas manchas de óleo foram encontradas nos municípios de Itapipoca e Amontada, litoral oeste do estado.
O produto afetou praias como as de Caetanos de Cima e Caetanos de Baixo, que estão entre os pontos turísticos do Ceará. O problema mobilizou diferentes pessoas ao longo do dia nesses pontos, que contaram com articulação de agentes do Estado e voluntários para limpar os locais afetados.
O pescador Valyres de Sousa, que atua na região há 28 anos, contou ao Brasil de Fato que foi surpreendido logo no início da manhã, quando circulou a notícia da chegada das manchas.
“Foi horrível. Tinham aparecido manchas aqui há um mês e 15 dias, quase dois meses. Era pouca coisa e não estávamos mais nem com essa preocupação, mas hoje a praia amanheceu cheia de óleo. Nunca tinha aparecido desse tanto. Parece com aquelas que a gente viu nos jornais lá pros lados da Bahia, de Alagoas”, compara.
Moradores contaram à reportagem que o produto se distribui em diferentes manchas, atingindo de uma ponta a outra da praia e se misturando à areia, às algas e às pedras.
De acordo com o professor Rivelino Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar-UFC), a volta da substância traz previsões negativas sobre a quantidade de produto ainda existente no litoral.
Ele destaca que o reaparecimento do óleo mostra que os fenômenos naturais dos oceanos, como correntes e ondas marítimas e a decomposição fotoquímica do sol, não foram capazes de mitigar o problema.
“Devido a todo o tempo em que ele está derivando no oceano, já era pra estar bem mais decomposto, num nível micromolecular ou até molecular, que seria difícil de se ver a olho nu. Mas, pelo que nós estamos vendo, esse material ainda tem um tamanho considerável e uma certa quantidade”, analisa, acrescentando que a situação é “ecologicamente preocupante”.
Andréa Camurça, assistente social e assessora de campo do Instituto Terramar, organização não governamental (ONG) que atua junto aos povos litorâneos da região, acrescenta outra preocupação: os prejuízos socioeconômicos do vazamento, que afeta a cadeia do turismo comunitário e compromete especialmente a atuação das comunidades locais, marcadas pela atividade de pescadores, marisqueiras e entre outros.
“As comunidades aqui vivem do mar, da pesca. Elas estão em contato direto e permanente com a água, então, há um risco nesse cotidiano. Isso tem um impacto, e é um desastre criminoso. A gente fica em uma situação muito difícil, porque o governo federal não tem assumido [o caso] como deveria”, avalia, mencionando também os riscos à saúde das populações atingidas pelo alcance das manchas.
Balanço
Segundo o último boletim do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), publicado na sexta-feira (27), 11 estados foram afetados até o momento pelo vazamento, incluindo os nove da região Nordeste, o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. O produto chegou a 129 municípios e atingiu o litoral de 980 localidades. Além disso, pelo menos 159 animais foram encontrados com óleo, entre tartarugas-marinhas e outras espécies.
Os números são medidos desde 30 de agosto, quando o problema foi constatado no litoral da Paraíba, primeiro estado a registrar a ocorrência de manchas. Desde então, 38 pontos do Ceará foram atingidos até a última sexta-feira, segundo o Ibama.
O Brasil de Fato contatou o instituto por meio de sua assessoria de imprensa no Ceará, mas as ligações não foram atendidas. A reportagem também não conseguiu contato com o comando da Marinha no estado, que atua na mitigação das manchas.
O Ibama tem dito à imprensa que atua no caso desde o dia 2 de setembro, por meio de ações conjuntas com a Marinha, a Polícia Federal (PF), a Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis (ANP), a Petrobras, órgãos ambientais estaduais e municipais.
Edição: Camila Maciel