UTI

Morador em situação de rua é atingido por fogo enquanto dormia em SP

“Estava passando quando vi o homem pegando fogo”, diz testemunha; polícia investiga se incêndio foi criminoso

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Homem estaria dormindo no momento em que chamas começaram, na madrugada de domingo (5)
Homem estaria dormindo no momento em que chamas começaram, na madrugada de domingo (5) - Jeniffer Mendonça/Ponte Jornalismo

Um morador em situação de rua está na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Municipal Tatuapé após sofrer queimaduras de 2º e 3º graus em frente ao supermercado Dia, na região da Mooca, na zona leste de São Paulo. A polícia investiga se o fogo foi criminoso.

Carlos Roberto Vieira da Silva, de 39 anos, foi atingido nas pernas, costas, peito e no rosto e estava consciente no momento em que foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros, que recebeu chamado por volta da 00h34 deste domingo (5/1).

O empresário Marcelo Veloso Fernandes, que mora a duas quadras do local, disse à reportagem que passava de carro pela rua Celso Azevedo de Marques por volta da 00h30, quando viu a vítima em chamas. “Achei que o supermercado que estava pegando fogo e de repente vi uma pessoa rolando na rua em chamas”, afirma. “Na hora, eu tirei a blusa e comecei a tentar abafar o fogo e nisso tinha um menino de uma pizzaria perto que veio ver o que estava acontecendo e me ajudou”.

Marcelo conta que em poucos minutos depois apareceu uma viatura da Polícia Militar. “Saíram uns vizinhos dizendo que tinham escutado uma explosão, que poderia ter sido alguém que tacou fogo nele. Eu tentei dar umas voltas no quarteirão para ver se achava alguém, mas não encontrei”.

De acordo com o Boletim de Ocorrência, Carlos teria dito aos policiais que não soube como aconteceu o princípio de incêndio porque estaria dormindo embaixo da marquise do supermercado. Os policiais ainda localizaram um recipiente, que seria um galão de gasolina, nas proximidades que poderia ter causado as chamas. O objeto foi encaminhado para perícia.

À Ponte, Pedro Henrique Teles, que trabalha há dois anos no estabelecimento, relata que Carlos sempre dormia à noite em frente ao local. “Ele ficava por aqui não todos os dias, mas dormia de boa, sozinho, nunca causou nada, mas também a gente não mantinha contato”.

Segundo o delegado Daniel José Sine, do 56º DP (Vila Alpina), foram analisadas algumas câmeras de segurança que apontam a movimentação de um suspeito poucos instantes antes de o fogo começar. “A ação começou às 0h e tem uma pessoa vestida de preto que circula pela região, depois há uma grande explosão e pelas imagens, que não são muito nítidas nem muito conclusivas, não dá para saber para qual direção essa pessoa foi”.

O delegado aponta ainda que ouviu algumas testemunhas que atestam que o homem dormia no local e que a tese de incêndio criminoso não foi descartada. “Há possibilidade de que uma pessoa tenha colocado fogo, mas até em então as investigações não são conclusivas”.

Sine declarou que o inquérito será realizado pelo 18º DP (Parque da Mooca) e que ainda estão sendo feitas diligências a fim de analisar mais filmagens no entorno e ouvir testemunhas.

O Padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, visitou a vítima no hospital. “Muito triste, muito chocante. O rapaz com 100% do corpo queimado, está sedado, em estado crítico”, lamentou à reportagem.

Procurada, a assessoria municipal da Saúde apenas confirmou que o paciente se encontra na UTI do Hospital Municipal Tatuapé.

‘Medo de dormir e não acordar’

Em novembro e outubro do ano passado, a Ponte mostrou que redes sociais estavam sendo utilizadas para incriminar moradores de rua da região da Mooca, onde funciona um CTA (Centro Temporário de Acolhimento) e que foi alvo de mobilização de habitantes do entorno para que o equipamento fosse fechado. Grupos chegaram a mover um abaixo-assinado com mais de 5,8 mil assinaturas acusando essa população de cometer roubo e estupro, crimes que a Polícia Civil não comprovou.

À reportagem, o padre Júlio Lancellotti informou que “a movimentação [desses grupos] diminuiu, mas eles [população de rua] ainda sentem medo”.

A frase “dormir e não acordar” foi uma das mais frequentes proferidas por essa população em outubro de 2019, quando a Ponte percorreu as ruas da cidade de São Paulo perguntando a essas pessoas qual o maior temor de viver nas ruas. Duas delas desabafaram o medo de serem queimadas enquanto dormem.

Edição: Ponte Jornalismo