Onde já se viu, marcar gol num povo tão bom?! De jeito nenhum
Técnico de futebol de times de cidades pequenas ou de roças podem ser muito bons, mas conheci ou soube de alguns cheios de opiniões muito divertidas.
Numa pequena cidade do sul de Minas, o técnico reunia o time no vestiário antes de entrar em campo e falava sempre as mesmas coisas. Uma delas era essa:
⸺ Se a gente marcar um gol logo no começo e não deixar o adversário marcar nenhum, nós ganhamos o jogo.
Óbvio né?
O segundo conselho era pro cobrador de faltas e pênaltis.
⸺ Se der pênalti a nosso favor, você chuta bem forte, no ângulo, que o goleiro não pega.
Já em Porto Feliz, no estado de São Paulo, o técnico orientava os atacantes para o caso de ficarem com a bola nos pés cara a cara com o goleiro.
Falava para não chutar direto no gol, que o goleiro podia pegar. E complementava:
⸺ Bola no travessão é que deixa o goleiro perdido. Então, em vez de chutar no gol, vocês chutam pra bola bater no travessão e voltar. O goleiro fica atrapalhado e aí podem chutar no gol.
Já na minha terra, também em Minas Gerais, tinha um time chamado São Lourenço, que só jogava contra times de roça.
O dono e técnico do time chamava-se Amado.
Um domingo, o São Lourenço foi jogar contra um time de um bairro rural chamado Cedro e os jogadores receberam um tratamento especial dos moradores.
Depois do jogo, foram para um galpão usado como salão de festas, onde lhes foi oferecido um jantar ótimo, regado a cachaça e cerveja.
O Amado, agradecido, convidou o time do Cedro para jogar no campo do São Lourenço, na cidade, no domingo seguinte. E o convite foi aceito.
Na véspera, o Amado reuniu o time e deu uma orientação inédita:
⸺ Olha, gente, nós fomos muito bem tratados pelo pessoal do Cedro. Então vamos tratar bem deles também. Pra começar, não vamos marcar gol neles. Onde já se viu, marcar gol num povo tão bom?! De jeito nenhum.
Veio o jogo, e os atacantes do São Lourenço obedeceram à ordem, evitando chutar em gol.
O problema era que o time do Cedro estava num daqueles dias ruins, jogando mal demais. E o São Lourenço jogando bem.
Muitas vezes os atacantes poderiam abrir o placar, mas chutavam fora ou fingiam tropeçar, chutavam o chão e caíam. A torcida não entendia o que estava acontecendo.
Mas, num momento, o Subaco, filho do Amado, melhor jogador do time, não aguentou. Viu a bola picando e encheu o pé. Gol!
O Amado entrou em campo e deu uma surra no filho desobediente, que marcou gol naquele povo tão bom.
Edição: Geisa Marques