DESIGUALDADE

Bilionários têm mais riqueza que 60% da população mundial, indica relatório da Oxfam

Elite mais rica acumula grandes fortunas às custas da população que mais faz trabalho não remunerado: mulheres e meninas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza que todas as mulheres que vivem na África, aponta documento
Os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza que todas as mulheres que vivem na África, aponta documento - Foto: Oxfam Global

Os 2.153 bilionários do mundo possuem uma riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas, aproximadamente 60% da população global. O dado revelado pelo novo relatório da Oxfam, lançado neste domingo (19), às vésperas do Fórum Econômico Mundial, evidencia que a concentração de renda chegou a nível recorde. 

O documento Tempo de Cuidar -- O trabalho de cuidado mal remunerado e não pago e a crise global da desigualdade, demonstra ainda como as economias mundiais são sexistas. Isso porque, conforme a pesquisa, enquanto os donos das grandes fortunas acumulam cada vez mais riqueza, as mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado realizado no mundo. 

“O cuidado é alimentar, cozinhar, arrumar, cuidar da pessoa doente, da criança. Esse serviço todo é importante para a economia e não está sendo remunerado adequadamente ou, muitas vezes, não é remunerado. Na divisão do trabalho, a mulher é aquela que cuida e o homem é aquele que traz os recursos. Isso é antigo, mas muito presente na sociedade, em distintos países e cultura”, critica Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

Segundo o relatório, mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado. Se fossem remuneradas, isso significaria uma contribuição de, pelo menos, US$ 10,8 trilhões por ano para a economia global, o triplo do valor gerado pela indústria tecnológica, por exemplo.

Maia complementa que a desigualdade de gênero precariza ainda mais a condição de trabalho das mulheres fora de casa. Em todo mundo, 42% delas não conseguem um emprego porque ocupam todo o seu tempo com o trabalho de cuidado e do lar. Entre os homens, esse percentual é de apenas 6%. 

Outro dado publicado no novo levantamento da Oxfam se refere às mulheres que vivem em comunidades rurais e países de baixa renda. Elas dedicam até 14 horas por dia ao trabalho de cuidado não remunerado, cinco vezes mais que o homens. A organização também registra que as meninas que realizam um grande número dessas funções apresentam taxas de frequência escolar mais baixa. 

Para a porta-voz da Oxfam, as estatísticas mostram que a situação tende a piorar.

“A população mundial está envelhecendo e vai precisar de cuidados, de saúde e de assistência. Aqui no Brasil, os recursos para essas políticas públicas estão sendo reduzidos. O IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] diz que, até 2050, teremos 77 milhões de pessoas que vão precisar de cuidado, entre idosos e crianças. Se não tivermos um arcabouço de serviço público para atender, quem vai cuidar dessa população? De novo, as mulheres e as meninas”, avalia. 

Outros dados corroboram a avaliação de Maia sobre a perpetuação dessa estrutura desigual. Apenas 30% dos municípios brasileiros contam com instituições de assistência a idosos, localizados em sua maioria no sudeste do país, de acordo com informações levantadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ou seja, o cuidado continuará a ser feito informalmente pelas famílias, com o trabalho não remunerado de uma maioria esmagadora de mulheres. 

Um mundo para os 99%

O relatório Tempo de Cuidar também apresenta sugestões para que as desigualdades de gênero e de renda sejam enfrentadas. Entre elas, o desenvolvimento de legislações que protejam os direitos trabalhistas das trabalhadoras domésticas e cuidadoras -- que representam 80% dos 67 milhões de indivíduos que trabalham na área. 

A Oxfam também recomenda a adoção de medidas para reduzir drasticamente o fosso entre ricos e pobres. Para isso, indica a tributação de grandes fortunas e o combate à sonegação fiscal com urgência, assim como o investimento dos governos em sistemas públicos de prestação de cuidados.

Katia Maia é enfática ao defender que uma reforma justa, que tribute os mais ricos e não os mais pobres, ajudaria diretamente a diminuir a opressão e exploração de mulheres e meninas. Ela argumenta que, por meio dos recursos que seriam tributados, o Estado teria maior capacidade de oferecer assistência social e serviços públicos de qualidade, diminuindo a sobrecarga que recai sobre os ombros das mulheres em todo o mundo.

Confira o relatório na íntegra.

Edição: Aline Scátola