Mais de 20 instituições federais e privadas de ensino superior ofertam, neste primeiro semestre de 2020, vagas exclusivas para refugiados e pessoas que possuem visto humanitário no Brasil. Agora, elas poderão ter a chance de se prepararem para os desafios profissionais e se ambientarem, cada vez mais, com a cultura brasileira.
A grande parte das universidades que aderiram ao programa ainda têm inscrições abertas, como a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), que abrirá o processo seletivo em julho deste ano, e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que abre inscrições de 2 a 13 de março.
Segundo o sírio Abdulbaset Jarour, um dos coordenadores da ONG África do Coração -- organizadora da Copa dos Refugiados --, “é muito difícil hoje em dia no Brasil, a gente ter um trabalho, a gente pagar uma universidade”.
“Então [a oferta de vagas] é uma oportunidade para nós, que deixamos nossa terra para trás, para realmente nos ajudar a realizar nossos sonhos”, completou Jarour, que deixou a Síria há seis anos na tentativa de escapar da guerra civil que atingia sua cidade, Aleppo.
Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), as inscrições já foram encerradas. Ao todo, 170 pessoas se inscreveram para as 37 vagas oferecidas pela instituição. A Universidade é uma das primeiras a dedicar um processo de seleção exclusivo para refugiados, já que muitas das universidades fazem sua seleção utilizando os canais comuns, como Enem, Sisu e Prouni.
Um dos motivos para um processo de seleção distinto, explica a pró-reitora de Graduação da instituição, Isabel Hartmann, é que “o Enem, a Fuvest, esses grandes processos seletivos, eles acabam sendo excludentes dessa população, porque o nível de demanda linguística dessas provas é muito alto”.
Segundo Hartmann, a Unifesp irá formular uma prova que “tem um número de questões menor, que se pretende ter uma linguagem mais objetiva e que não contenha ambiguidade, ou grandes figuras de linguagem, para avaliar o que é universalmente necessário para o aluno estar no ensino superior”.
É justamente a barreira da língua uma das principais dificuldades que pessoas em situação de refúgio encontram no Brasil. Djeansy Toussant, estudante haitiano que está há oito meses no país, ainda têm dificuldades com a língua portuguesa.
Segundo Toussant, os encontros em uma pastoral que atende refugiados e um cursinho popular realizado na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) -- organizado pelo Centro de Apoio ao Migrante (CAMI) -- tem auxiliado o seu processo de adaptação.
“É muito difícil, porque venho aqui como refugiado. Saí do Haiti, passei no Panamá. A dificuldade para mim é a língua portuguesa, mas eu faço muito esforço para aprender. Eu vou ao cursinho, vou na Igreja e tenho encontrado amigos lá”, diz.
No último levantamento realizado pelo Comitê Nacional para os Refugiados, em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o Brasil abriga mais de 11 mil refugiados já regularizados. Mas outras 161.057 solicitações aguardam resposta. Somente em 2019, foram 59 mil pedidos.
Segundo o levantamento, do total de refugiados com situação regularizada no país, 36% são sírios, 15% congoleses, 9% angolanos, 7% colombianos e 3% venezuelanos.
Confira a lista de universidades que ofertam vagas a refugiados:
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Universidade de Vila Velha (UVV)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade de Campinas (Unicamp)
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Universidade Federal da Paraíba (UEPB)
Universidade Federal da Pará (UFPA)
UniSantos (Santos, SP)
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Edição: Vivian Fernandes