HOMENAGEM

Católicos e evangélicos homenageiam vítimas de Brumadinho em celebração ecumênica

Representantes das igrejas ressaltaram a importância das famílias fortalecerem os laços

Brasil de Fato | Betim (MG) |
Ao fim da celebração ecumênica, os atingidos leram a Carta do Rio Paraopeba ao Rio Doce
Ao fim da celebração ecumênica, os atingidos leram a Carta do Rio Paraopeba ao Rio Doce - Coletivo MAB

A celebração ecumênica realizada em memória das vítimas e familiares do crime socioambiental de Brumadinho, que completa um ano neste sábado (25), reuniu representantes das igrejas católica e evangélica na  Igreja Santa Izabel de Hungria em Betim (MG) na noite desta quinta-feira (23).

Os atingidos da Bacia do Paraopeba e do Rio Doce iniciaram o evento cantando versos "Eu só peço a Deus / Que a guerra não me seja indiferente", da parceria de Beth Carvalho e Mercedes Sosa Eu Só Peço a Deus, gravada no álbum Beth (1986). 

"As famílias de Brumadinho ainda choram a dor de perder um ente querido. Choram e vão chorar. E é por isso que a nossa luta é uma luta para todos. Continuaremos até que o último atingido seja reparado e respeitado", desabafou emocionado o  morador de Betim, Tómas Nédson, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Durante a celebração, o frei franciscano José Roberto Garcia lembrou a gravidade do acontecimento. "Por causa da ganância, da ambição, do lucro e do capital diversas vidas foram ceifadas. Por isso afirmamos que é uma tragédia crime” ressaltou.

O pastor Cláudio, da Igreja Pentecostal Semeadores de Cristo, destacou que o momento é de dor, mas também de comunhão “Sabemos que hoje têm muitos que sofrem com depressão, com ansiedade porque a dor continua, ela não cessa. Estamos aqui para rezar por todos os atingidos e atingidas por essa tragédia.”

Ao fim da celebração ecumênica, os atingidos leram a Carta do Rio Paraopeba ao Rio Doce. No sábado (25) , data que marca 1 ano do crime socioambiental, também haverá celebrações em memória das vítimas. As cerimônias acontecem em Brumadinho e em Córrego do Feijão. Durante todo o dia acontece a 1ª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela Ecologia Integral.
    

Carta do Rio Paraopeba ao Rio Doce

Caro companheiro Rio Doce, estou escrevendo para avisar-lhe das lutas daqui. Estou na mesma situação que você meu irmão. Minhas margens, minhas praias, minhas ricas vazantes, meus povos tradicionais, ribeirinhos, meus peixes, todos estão sofrendo, estão doentes. Estão me assassinando. Matando toda a vida ao meu redor. 
Meu companheiro Rio Doce, nos enganaram, iludiram nossos povos. Os mesmos que são parte de nós. Uma força muito grande invadiu nossos leitos, nos contaminou. Estou muito triste pelo que fizeram comigo, conosco. 
Meu amigo, meu companheiro, ainda há esperança. Nossos povos estão revoltos, com sede de justiça. Os inimigos de nossa terra devem pagar, devem retornar o que nos tiraram. Temos ao nosso lado, marchando nas nossas margens, companheiros de outras bacias. Eles estão nos defendendo. Defendendo a vida que nos foi roubada. O povo há de trazer força para as nossas bacias. Tantos companheiros de outras bacias estão aqui caminhando juntos. A bacia da Amazônia, a bacia do São Francisco, a bacia do Xingu e tantas outras. Todos caminhamos juntos, rumo ao mesmo destino. Todos nós iremos nos encontrar. A nossa luta é a mesma. 
Do Rio ao mar, não irão nos calar!

Edição: Leandro Melito