Coluna

Novos gritos de guerra e vitória

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O Instituto Tricontinental de Pesquisa Social resgata a essência de libertação nacional da mensagem original de Che Guevara
O Instituto Tricontinental de Pesquisa Social resgata a essência de libertação nacional da mensagem original de Che Guevara - Adalberto Roque/AFP
Convidamos a descobrir e sistematizar as vozes da resistência

“E se todos fôssemos capazes de unir-nos, para que os nossos golpes fossem mais sólidos e certos, para que a ajuda de todo o tipo aos povos em luta fosse ainda mais efetiva, que grande seria o futuro, e que próximo! Toda a nossa ação é um grito de guerra contra o imperialismo e um clamor pela unidade dos povos contra o grande inimigo do gênero humano: os Estados Unidos da América”

Em 1967, um ano após a Conferência Tricontinental -- que reuniu os movimentos revolucionários da Ásia, África e América Latina, realizada em Cuba --, Ernesto Che Guevara, em nome do Secretariado Executivo da Organização de Solidariedade com os Povos de África, Ásia e América Latina (OSPAAAL), faz chegar aos povos em luta a mensagem que convocava à indignação diante de qualquer injustiça, num contexto de guerra e ofensiva do Imperialismo contra as alternativas de libertação nacional.

Em seu segundo ano de atuação no Brasil, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, que com orgulho porta esse nome como herança e continuação dessa Conferência, convida os leitores e leitoras a se indignar e entoar o grito da mensagem de 1967 a favor da vida e da luta.

A guerra atual contra o Imperialismo deve levar em conta a crise estrutural do capitalismo contemporâneo e sua dimensão financeirizada. Como destaca o diretor do Instituto, Vijay Prashad, “para evitar um grande colapso, os bancos centrais de todo o mundo reduziram permanentemente as taxas de juros, provendo dinheiro barato ao mundo dos negócios. Essas empresas -- que não investiram no setor produtivo -- estão emprestando trilhões de dólares ao mundo que Karl Marx chamou de ‘capital fictício’”.

A luta dos povos se dá num cenário em que o valor fictício dos mercados de ações globais chega a mais de 200% do PIB global.

A nova configuração do capitalismo contemporâneo, nossa primeira agenda de pesquisa, dedica-se aos estudos sobre o Imperialismo, processos de financeirização, ofensiva neoliberal, reestruturação produtiva, trabalho digital, pilhagem sobre os bens naturais e acumulação predatória de recursos estratégicos. Buscamos compreender essas dimensões da crise com o objetivo de disputar narrativas dos acontecimentos mundiais a partir de uma perspectiva dos povos do Sul Global.

Outra dimensão que temos jogado luz nas análises é a crise da globalização neoliberal relacionada à crise de hegemonia do imperialismo, assim como a ascensão de um novo polo de poder com a China, o que chamamos de descoberta do mundo bipolar.

Diferente do contexto dos anos 1960, atualmente a bipolaridade não é caracterizada por diferentes ideologias, mas sobretudo uma disputa entre capitalistas por mercados que se expressa pelo acirramento das guerras comerciais. Outra dimensão dessa disputa é o avanço de forças conservadoras que crescem à medida que a sociabilidade e a cultura da classe trabalhadora são destruídas.

Na nossa segunda agenda de pesquisa, Geopolítica e Soberania, acompanhamos de forma permanente as ameaças à soberania e à democracia com o avanço do autoritarismo e fascismo no mundo contemporâneo.

Mas para além de entender o presente e suas dificuldades, nos desafiamos também a desenvolver, na batalha de ideias que travamos, teorias de futuro que façam frente às teorias hegemônicas que nos prendem à miséria do presente e do possível. Isso envolve pesquisa e sistematização de processos de emancipação e luta ideológica, protagonizados pelos trabalhadores, pelos negros, pela juventude, pelas mulheres, pelos povos indígenas, pelos moradores do campo e das periferias das cidades. A nossa terceira agenda de pesquisa se dedica a esse estudo, o Futuro.

Os ciclos progressistas na América Latina, que até pouco tempo inspiravam resistências no Sul Global, estão em colapso e revelaram as debilidades estratégicas de seus processos de luta e acúmulos políticos e organizativos. Ao mesmo tempo que operam essas determinações internacionais, a questão nacional é o pano de fundo da crise brasileira, com as bases da nação e da nacionalidade sendo destruídas à medida em que o país está sendo entregue aos interesses das grandes corporações internacionais.

Autores que se dedicaram a compreender a crise de destino dos povos subdesenvolvidos constituem um pensamento crítico fundamental para subsidiar processos de luta. Esse ano, celebramos o centenário de Celso Furtado e de Florestan Fernandes, que se dedicaram a compreender na formação social e econômica do Brasil as contradições que se desdobram no processo de desenvolvimento do capitalismo subdesenvolvido, a partir das quais podemos conceber a radicalidade e as raízes profundas da Revolução Brasileira.

A associação das questões nacionais de cada país à causa latino-americana e ao processo de libertação dos humildes assumiu centralidade na Mensagem aos Povos do Mundo através da Tricontinental. A síntese entre questões de conteúdo nacional e o internacionalismo é um patrimônio das lutas por libertação nacional, sistematizados na Conferência de Havana (a Tricontinental), que buscamos atualizar e trazer à luz para contribuir nas reflexões críticas que impulsionamos por meio da construção de pontes de diálogo entre movimentos populares e sindicais, intelectuais, pesquisadores, artistas e a comunidade acadêmica, que estão em instituições de ensino e pesquisa comprometidos com processos emancipatórios.

O Instituto Tricontinental de Pesquisa Social resgata a essência de libertação nacional da mensagem original de Che Guevara, e os convida a juntar-se a nós na formação de redes de colaboração para travar a Batalha de Ideias e forjar um pensamento crítico na sociedade favorável a uma rota de saída popular e soberana da crise.

Convidamos a descobrir e sistematizar as vozes da resistência, essas que em dias de hoje gritam contra o imperialismo e semeiam o futuro: novos gritos que virão. Nossos dossiês buscam dar voz ao que está sendo produzido e protagonizado pelo povo, pela classe trabalhadora, mulheres e jovens da periferia do mundo que constroem um futuro possível: os que tiveram ouvidos receptivos e mãos para pegar as nossas armas da batalha de ideias.

Acompanhe nossas pesquisas pelo site do Tricontinental Brasil! Um 2020 de luta e para todos nós!

Edição: Rodrigo Chagas