Literatura 

Luta poética: Levante Popular da Juventude lança livro

"Levantes da Resistência" reúne poemas, fotografias e desenhos de mais de 70 artistas ligados ao movimento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Evento de lançamento em SP: Lorena Carneiro (esq.), Nátaly Santiago, Raíssa Almeida, Guilherme Gandolfi, Emilly Firmino e Luiz Bugarelli
Evento de lançamento em SP: Lorena Carneiro (esq.), Nátaly Santiago, Raíssa Almeida, Guilherme Gandolfi, Emilly Firmino e Luiz Bugarelli - Nara Lacerda/Brasil de Fato

As primeiras linhas das páginas de apresentação do livro "Levantes da Resistência", publicado pela editora Expressão Popular, são uma resposta direta a quem ainda acredita que é possível fazer políticas sociais para a juventude sem diálogo e com toques conservadores.

O lançamento aconteceu nesta quarta-feira (29), no Armazém do Campo, em São Paulo (SP).

Na introdução da obra, que reúne fotografias e poemas, as militantes Caroline Anice e Nátaly Santiago são taxativas ao afirmar que a juventude “sabe bem o poder que a palavra e a arte têm.”

Enquanto aqueles que concentram a riqueza do mundo tentam nos dominar, explorar e silenciar, / nós mantemos acesa a chama da nossa rebeldia construindo rap, rima, tinta e samba pra contar a / nossa história nas favelas e nos campos, no centro e no interior

O livro está longe de ser um compilado de poemas e imagens.

Para os mais atentos, fica óbvio que a publicação conta também um pouco da história do Levante Popular da Juventude, um movimento que já nasceu sabendo que a mobilização dependia diretamente da valorização da cultura e da arte. 

Gestado em 2006, no Rio Grande do Sul, o Levante se consolidou em 2012, durante o primeiro acampamento nacional do movimento, que reuniu milhares de jovens em Santa Cruz do Sul (RS).

A edição mais recente do acampamento, em 2016, ocupou o estádio Mineirinho em Belo Horizonte e reuniu sete mil jovens. O ato de rua do evento, um teatro procissão, denunciava o golpe que ocasionou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). 

“A gente já nasce com uma característica muito forte, que marca o levante até os dias de hoje, que é o esforço e a tentativa de fazer luta, de politizar, de fazer formação com novas formas, com novas práticas. O processo de disputa da sociedade por um projeto democrático e que combata as desigualdades exige criatividade. É necessário combinar formas. Tem que ter o texto, tem que ter o traço, tem que ter o livro, tem que ter poema, tem que ter a música, tem que ter a batucada” afirma Jessy Dayane, da coordenação nacional do Levante.

 


O projeto gráfico do livro foi feito pela editora em conjunto com os militantes do movimento (Foto: Nara Lacerda)

Uma lei antiabraços / proíbe entusiastas / de abraçarem suas causas. / Cláusulas nefastas / impedem manifestações amorosas / de abraçar as multidões. 

E os poetas, / esses otimistas, / preveem manhãs ensolaradas.

Diego Ruas

Com poemas, fotos e desenhos de mais de 70 artistas, que falam sobre política, resistência, exclusão, luta, amor, utopias e esperanças, a obra foi produzida a partir de um processo coletivo de organização, fiel à natureza do Levante. Hoje o movimento tem representações em 24 estados e no Distrito Federal. Dessas células saem vídeos, exposições, debates e formações. 

“A juventude está diariamente produzindo poemas, rimas, ilustrações, mas essa produção não tem espaço. Seja por falta de incentivo do estado para que a juventude consiga expressar sua voz, seja porque a indústria cultural limita que tipo de produção tem espaço, seja porque a juventude da periferia é invisível. Foi a forma que a gente encontrou de dar visibilidade, dar voz e dizer que a gente tem muitos artistas que não são reconhecidos”, explica Jessy.

O posfácio de Levantes da Resistência, escrito por João Pedro Stedile, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), indica que parte das organizações sociais do Brasil já entenderam a força que tem o caminho de luta escolhido pelo Levante Popular da Juventude.

“Espero que ele enseje a todos leitores e movimentos populares, dos vários setores sociais, uma reflexão sobre como construirmos novos métodos de pedagogia de massas, naquilo que podemos resumir como fazer política, educar o povo, com arte e cultura.”

Vai, liberta-te! / Grite o mais alto que puder, / evidencie sua dor, / seu terror. / Torne palavras / palpáveis lágrimas, / sutis, macabras, / carente / de belas águas / que escorrem do amor.

Raíssa Almeida

Edição: Rodrigo Chagas