Movimentos que atuam em prol da população em situação de rua na cidade de São Paulo (SP) denunciam que a contagem realizada pela Prefeitura acerca do número de pessoas nessa condição não condiz com a realidade.
O número apresentado pelo estudo “Censo da População em Situação de Rua”, divulgado nesta sexta-feira (31) pela Prefeitura de São Paulo (SP), aponta de 24.344 cidadãos vivem ou passam a maior parte do tempo nas ruas. O dado significa um aumento de 60% em relação ao último levantamento, feito em 2015, quando foram identificadas 15.905 pessoas.
Um estudo feito pelo Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) estima que um contingente de 30 a 35 mil pessoas vivam nas ruas da capital paulista.
O próprio Cadastro Único do Município (Cad Único) aponta que o número gira em torno de 30 mil, defende Anderson Lopes de Miranda, coordenador do movimento. Ele participou da equipe do censo realizado pela empresa Qualitest Ciência e Tecnologia LTDA, ao lado de outros 40 moradores em situação de rua, e relata que a abrangência da contagem foi restrita.
“Tiveram lugares que não foram contados, porque a própria Prefeitura, por meio de guardas municipais, por exemplo, não deixava entrar. Teve uma falha muito grande da gestão em não dar autonomia para a empresa, que teve de cumprir certas regras", relata.
Lopes também explica que a pesquisa, que durou cerca de nove dias, não percorreu todas as ruas da cidade, apenas as principais.
Robson Mendonça, que também faz parte no MNPR, interrompeu a coletiva de imprensa para questionar a Prefeitura sobre o número apresentado. Em resposta, Cristiano Luiz de Araújo, coordenador da pesquisa e representante da Qualitest, afirmou que o censo considerou a definição de pessoa em situação de rua do Decreto 7153, que não inclui, por exemplo, quem habita barracos ou locações com madeirite.
De acordo com Anderson Lopes de Miranda, porém, essa definição está ultrapassada.
"Comigo ela não falou"
O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, também defendeu que a pesquisa não é realista. “Muitas pessoas não foram cobertas porque não deixou de realizar ações de ‘rapa’, expulsando as pessoas dos locais antes dos recenseadores passarem. Os serviços já estão sucateados e esse número subestimado vai piorar ainda mais a situação. Logo não vai ter alimentação suficiente nos centros de acolhida, por exemplo, porque a estimativa de atendimento vai estar sempre fora da realidade”, afirmou à Rede Brasil Atual.
Elton Teixeira, que está em situação de rua em São Paulo há cerca de três anos, afirmou que não foi consultado pela Prefeitura para a realização do censo. “Comigo ela não falou não. Aqui ela nem apareceu. Só vem aqui quando quer arrancar a gente daqui”, disse. “O albergue não é o ideal, porque a gente não precisa só de albergue. A gente precisa de um curso, de um incentivo, alguém mostre o caminho da gente.”
Segundo o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), a gestão está buscando medidas para ampliar o acolhimento a essa população, em termos quantitativos, “mas também melhorar a utilização do recurso público, porque não dá para a Prefeitura gastar milhões de reais que já gasta hoje em dia e ver aumentar em 50% a população em situação de rua”.
De acordo com a pesquisa, das 24.344 pessoas em situação de rua, menos da metade é acolhida em equipamentos públicos: 11.693. O restante, 12.651 permanecem constantemente na rua.
A pesquisa também identificou que a maioria pertence ao sexo masculino, cerca de 85%. Uma das novidades dessa edição é o registro de de pessoas de acordo com a identidade de gênero: 386 se declararam trans.
Quanto à faixa etária, a maioria está entre 31 e 49 anos, configurando cerca de 46% do total. Em relação à raça, aproximadamente 75% se declara parda. Por fim, a maioria dessa população está concentrada na Subprefeitura da Sé, cerca de 45%.
Edição: Rodrigo Chagas