Todo início de ano o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) vive a mesma realidade: Não há recursos para garantir a programação de apresentações, oficinas e cursos e alguns profissionais são desligados. O motivo para tal situação recorrente é que o Governo do Estado do Ceará não consegue garantir os recursos necessários para o funcionamento do equipamento.
De acordo com Romário Bastos, professor e membro do Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim, todos os equipamentos da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult) são geridos pelo Instituto Dragão do Mar, uma Organização Social (OS) que, por meio de contratos de gestão, realizam suas atividades. O CCBJ também é gerido dessa forma. Os contratos de gestão são anuais, o que significa que é necessário fazer a renovação a cada ano, todavia há um problema específico do CCBJ, o contrato de gestão do Centro Cultural não supre as atividades regulares como, por exemplo, cursos de formação artística, programação cultural e pagamento da equipe. Dessa forma, o equipamento necessita de um complemento que é feito mediante aprovação de projeto do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop).
“Durante os treze anos de existência do equipamento esse modelo foi naturalizado pela Secult e pela OS, pois o contrato de gestão que não supre a necessidade do equipamento só é aprovado em março e o Fecop, que garante o funcionamento, só chega em junho, mantendo o CCBJ sem atividades regulares durante todo o primeiro semestre”, afirma Romário.
Atualmente, os cursos técnicos e extensivos que deveriam estar em andamento se encontram paralisados esperando verba para contratação de professores. Outro agravante, apontado por Romário, é que o Núcleo de Articulação Técnico Especializado (Narte), que é responsável por acompanhar, fazer busca ativa e encaminhar os casos de violências sofridas por jovens, alunos e frequentadores do CCBJ também se encontra sem nenhum atendimento, pois também está esperando recurso para recontratação da equipe. O setor de comunicação também está sem nenhum profissional.
De acordo com nota divulgada pelo Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim, a paralização das atividades no CCBJ representa cerca de “sete mil pessoas que deixaram de participar de ações de formação; são mais de 240 pessoas que possuem acompanhamento de situações graves e complexas de violações de direitos, que ao mesmo tempo que fazem atividades de arte e cultura são cuidadas; são mil pessoas toda semana que deixam de estar em alguma programação cultural”.
Neste mês de janeiro, no site da Secult, foi divulgada uma programação de atividades realizadas no Centro Cultural Bom Jardim, mas de acordo com Romário a programação que aparece lá é totalmente feita sem a participação da Secult ou até mesmo do próprio CCBJ. “Artistas e coletivos pedem o espaço do CCBJ para ensaiar, se apresentar, etc. É o que se chama de pauta solicitada”, explica. Essas atividades, segundo ele, acontecem pela iniciativa e responsabilidade de quem solicita o espaço, que também fica responsável por realizar a divulgação, mobilização de plateia e registros das atividades, já que o CCBJ hoje não possui equipe que ofereça esse suporte.
A arte resiste
A programação Insurgente é uma ação realizada toda sexta-feira no Centro Cultual Bom Jardim por um coletivo formado pelo Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim, artistas do território, coletivos de diversas linguagens artísticas, representantes das comunidades e demais interessados. Os encontros têm como objetivo avaliar a atual situação do equipamento, propor ações na luta contra o descaso vivido pelo CCBJ e, ao mesmo tempo, ofertar uma programação artística.
Em suas redes sociais, o Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim faz divulgação de coberturas jornalísticas, reportagens, fotos entre outros materiais das ações desenvolvidas na luta pelo funcionamento do CCBJ. Para acompanhar acesse Facebook e Instagram.
Recursos
Na quinta-feira, 30, o governador do estado do Ceará, Camilo Santana, divulgou em sua rede social a seguinte nota: “nesta quinta-feira, autorizei a ampliação dos recursos para o Centro Cultural Bom Jardim em mais de 70% e a liberação imediata desses recursos para ampliar as atividades permanentes de ações culturais, artísticas e formativas, fortalecendo a atuação social do centro, que atende a centenas de jovens de vários bairros da nossa capital”. Romário explica que essa é uma medida inédita durante a existência do CCBJ. “Como dissemos anteriormente, foram treze anos naturalizando a descontinuidade. Tanto para o governo, quanto para o IDM (OS que administra o equipamento) era normal passar três, quatro e até seis meses sem funcionamento.”
Com o anúncio dos recursos feiro por Camilo, Romário informa que, de imediato, o Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim reforçar[á sua atuação junto à gestão do equipamento, exigindo os detalhes do Contrato de Gestão autorizado ontem, 30, numa espécie de monitoramento comunitário da aplicação prática desse recurso. “Não ficamos satisfeitos apenas em conseguir a verba, queremos também opinar e sugerir como deve ser utilizada. Isso é participação social”, finaliza.
Edição: Monyse Ravena