Com algumas semanas no ar, “Apocalipse”, a nova novela bíblica da Record, tem dado o que falar. A trama pretende apresentar uma interpretação do último livro da Bíblia, com “as visões” do apóstolo João.
O que vem causando polêmica é a interferência de pastores da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) nos rumos da novela. Para quem não sabe, o dono da Record é o bispo Edir Macedo, líder da IURD que, recentemente, teve sua filha nomeada para o comando das novelas da emissora. Suspeita-se que, além de obter audiência e lucro, o canal tem usado a trama para outros fins. E fins nada interessantes…
Em sua primeira semana, a novela apresentou o personagem Stéfano Nicolazi (Flávio Galvão) o sacerdote máximo da Igreja da Sagrada Luz, com sede em Roma. Tal igreja foi apresentada por um narrador que usou as seguintes palavras para descrevê-la: “Bem-vindo à Igreja da Sagrada Luz. São quase 1.700 anos espalhando as trevas pelo mundo. Mas, é claro, tudo muito bem elaborado para parecer divino. O engano é a minha especialidade”. Além de coincidências com a Igreja Católica (sede em Roma e o período de 1700 anos), Stéfano Nicolazi surge com roupas idênticas às usadas pelo clero católico. E, não menos polêmico, essa igreja é que abrigará o anti-Cristo, o grande vilão da trama.
Surpreende o tom acentuadamente proselitista dado a essa trama, diferente de suas últimas novelas de enredo bíblico. A audiência, cada vez mais baixa, e a repercussão da novela têm dado sinais claros de insatisfação do público com isso.
A Record alega, por exemplo, que a igreja abordada na novela é uma “igreja fictícia romana” e que quaisquer semelhanças são meras coincidências de uma obra de ficção. No entanto, a própria equipe, a exemplo da autora Vivian de Oliveira, tem demonstrado sinais de insatisfação nos bastidores com as “interferências externas” nos rumos da novela. Circula na imprensa que a emissora tem acrescentado passagens, falas e cenas que a autora nunca escreveu.
Difícil caminho tomado pela novela, que prometia tanto…
Um abraço e até a próxima!
*Felipe Marcelino é professor de filosofia