No último domingo (28), logo após o resultado das eleições que alçou Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República, apoiadores do político de extrema-direita foram às ruas do país comemorar a vitória do seu candidato. Na cidade de Niterói não foi diferente. Contudo, um episódio no município chamou a atenção, principalmente, pelo simbolismo.
Enquanto bolsonaristas comemoravam na rua Miguel de Frias, no bairro de Icaraí, a vitória do candidato do PSL, um comboio de militares do Exército Brasileiro passou em baixa velocidade no meio da população. Sob aplausos, e gritos de “o capitão chegou”, os militares fizeram gestos de vitória com os punhos cerrados, bateram no símbolo da bandeira brasileira presente em seus uniformes e aplaudiram os manifestantes que ocupavam a rua.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Márcio Malta, o episódio representou uma demonstração de poder dos militares e, do ponto de vista histórico, as imagens remetem ao regime militar de 1964 no momento do golpe.
“O que chamou a atenção é que não parecia qualquer operação ou ação mais específica, mas sim, meramente uma exibição de poder, no sentido de ser um recado, de que caso a eleição transcorresse de outra forma e não com o resultado que tivemos, poderia ocorrer uma ameaça ou reação. As imagens remetem ao regime militar de 1964 e causa espanto os soldados em exercício fazendo saudação, batendo continência e acenando”, afirmou Malta.
Democracia
A Constituição Federal de 1988 determina que as Forças Armadas, ou seja, Marinha, Exército e Aeronáutica, são instituições sob a autoridade suprema do Presidente da República e destinam-se à defesa do país, à garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem. Para Malta, o cenário que se configura para 2019 com militares assumindo ministérios e o comando de grandes empresas é perigoso para a democracia.
“Os teóricos políticos mais clássicos como Maquiavel, designam bem as preocupações de se ter militares em postos chaves. Não seria saudável para a democracia, até porque um preceito básico da democracia poderia estar sendo violado, que seria o direito à oposição”, ressaltou o cientista político.
O Brasil de Fato contatou a assessoria de imprensa do Comando Militar do Leste sobre o episódio ocorrido no bairro de Icaraí. Por meio de nota, o Comando informou que as cenas são do retorno de um comboio que fazia a segurança da votação e da apuração para o quartel. Segundo a assessoria, os militares foram corteses e retribuíram a saudação dos civis. O órgão ressaltou que não houve irregularidade na ação da tropa.