A luta das mulheres ao longo da história é que nem água, “que se esvai sem pedir licença, e nem por isso é menos resistente, menos resistência”. E é das resistências menos óbvias que Nena Inoue fala na peça ‘Para não morrer’, que está em cartaz no Ave Lola Espaço de Criação até o dia 4 de junho. O espetáculo traz a trajetória de luta de diversas mulheres ao longo dos séculos, principalmente na América Latina.
A peça é baseada no livro ‘Mulheres’, do uruguaio Eduardo Galeano, a partir da dramaturgia de Francisco Mallmann. Atriz argentina radicada em Curitiba, Nena é idealizadora e intérprete do espetáculo.
Histórias como a de Zeferina, Olga Benário e até Maria Bueno – a santinha de Curitiba – são trazidas na apresentação. Nena fala que essa é uma forma de dar voz às resistências, e às lutas de mulheres que não são vistas nem lembradas: negras, indígenas, guerrilheiras, assinadas na ditadura em diferentes países da América Latina. “Elas não viraram heroínas, não foram condecoradas. Estão à margem da história”, conta.
Trajetórias que emocionam
O monólogo se desenvolve em um palco simples, com poucos elementos. No centro, está sentada uma senhora, rodeada de jarras e copos da água. Seu longo cabelo é a única coisa que cobre seu corpo. Segundo Nena, cenário e figurino foram pensados para dar destaque para o que realmente importa: as histórias que estão sendo contadas. E ao longo de 60 minutos, o público conhece a história de 20 mulheres, que representam tantas milhares.
A contadora de histórias também é uma figura à parte. No lado esquerdo do corpo, a boca torta e o braço e perna imóveis também indicam que a personagem tem uma paralisia motora. Mas apesar da dificuldade, a senhora não se cala: "É para que a gente saiba de onde viemos". Na plateia, algumas pessoas deixam escapar algumas lágrimas. Umas dizem que a personagem lembra a avó; outras vêem na figura a representação da Pachamama (ou mãe terra), divindade andina relacionada com a terra e com o feminino.
O importante, lembra Nena, é se referenciar com essas histórias. “Se somos o que somos é porque tivemos outras e outras e outras mulheres que lutaram por nós”, aponta. E quer levar essa experiência mais longe: em julho, a peça estréia em São Paulo. Se possível, vai levar o espetáculo também para outros países da América Latina.
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Quando: Até 4 de junho, quintas, sextas e sábados às 20h, e domingos às 18h.
Onde: Ave Lola Espaço de Criação, Rua Marechal Deodoro 1227 – Centro.
Quanto: Pague o quanto vale