As manifestações do dia 26 de maio convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) podem anunciar o começo do fim do seu governo – tenha o tamanho que tiver. Principalmente porque a pauta verdadeira das manifestações defende um golpe nas instituições democráticas, com ataques deliberados contra o Congresso Nacional e o STF. Temendo ser derrubado, Bolsonaro quer mais poder. E quem muito quer, nada tem.
As manifestações são uma resposta há pelo menos três fatores: as mobilizações em torno da educação, a dificuldade de aprovar a reforma da previdência e o cerco que se fecha em torno das suspeitas de corrupção da família presidencial. O presidente vem perdendo apoio dos militares por permitir que seus filhos e aliados os ataquem.
O primeiro desafio do governo é promover protestos maiores dos que ocorreram em defesa da educação. Porém, a juventude segue mobilizada contra o governo. Uma nova onda de protestos deve ocorrer no dia 30 de maio com apoio de reitores e, cada vez mais, políticos de todas tendências.
De toda a forma, Bolsonaro dá um tiro no pé ao jogar contra o Congresso Nacional e o STF. Seus apoiadores até poderiam argumentar que sua ida às ruas é em defesa (da perda de direitos) da reforma da previdência, contra o centrão que não aprova a MP 870 e contra o STF que “passa pano” para a corrupção. Contudo, o que se percebe é que uma “vitória” de Bolsonaro e sua turma significa o enfraquecimento das instituições. O presidente vende seu protesto como antissistema, mesmo ele sendo, junto com seus filhos, parte desse velho sistema.
O presidente convoca as ruas para apoiá-lo em um cenário em que o desemprego passa dos 13 milhões, a projeção do PIB está em 1,4%, o dólar e a gasolina disparam, a desigualdade aumenta, a fome retorna ao país, a violência aumenta e nada disso está na pauta dos protestos de domingo.