"Quando tu conheces a origem do teu alimento, tu vais escolher quem tá na mesa contigo: se vai ser o agricultor ou se vai ser quem está matando o agricultor; se vão ser os povos originários ou quem está secando as nascentes", afirma a cozinheira paraense Tainá Marajoara.
Há nove anos, ela e o ativista e chef de cozinha Carlos Ruffeil fundaram o Ponto de Cultura Alimentar Iacitata em Belém (PA).
Assim como a Feira Nacional da Reforma Agrária, cuja terceira edição ocorre em São Paulo (SP) até domingo (6) e que ambos visitaram nesta sexta-feira (4), o objetivo do espaço é fazer o diálogo com a população sobre temas como alimentação saudável e soberania alimentar.
"Quando iniciamos o trabalho, fizemos uma conversa sobre como iríamos trabalhar com os alimentos, que têm nome e território. O alimento não chega sozinho na mesa e isso precisava ser dito", afirmou Marajoara, que também é conselheira nacional da Cultura Alimentar.
Ela relaciona a democracia alimentar, que é a promoção do acesso a uma diversidade de produtos e alimentos saudáveis a preço justos, com o processo de desapropriação de terras para reforma agrária.
"Não existe alimentação saudável vindo de terra grilada. A reforma agrária, a garantia de direito, a garantia da soberania alimentar e da soberania sobre os nossos territórios e sobre o conhecimento é intimamente ligada à conservação das nossas culturas alimentares. E quem faz isso são os povos tradicionais do Brasil."
Os cozinheiros sabem nomear a origem de todo e qualquer alimento que entra no ponto de cultura e fazem questão de apontar isso para quem passa pelo local — o objetivo é conscientizar a população sobre os caminhos que os alimentos percorrem até chegar à mesa.
No Iacitata, o cardápio oferecido respeita a sazonalidade dos alimentos. A logística não é uma barreira para os cozinheiros, que recebem produtos de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de todo o país.
"Eu tenho arroz do Rio Grande do Sul, eu tenho café Guaií de Minas Gerais, açúcar Copavi do Paraná, cachaça de Goiás… Então, se para gente é possível para qualquer pessoa é possível", disse.
Ruffeil elogia a organização das feiras da reforma agrária pela ponte que faz entre os centros urbanos e as pautas camponesas.
"As mídias ficam dizendo que o agro é pop. Não. O agro é morte. Essa relação da reforma agrária com a cidade não tem como não existir. Sem o alimento do pequeno agricultor, a cidade não come. E é muito mais caro uma caixa de remédios do que um alimento limpo", finalizou.