Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial brasileira caiu 1,1% em 2019 e interrompeu o pequeno crescimento em 2018 de 1% e em 2017 de 2,5%. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (4).
O economista, Fernando Sarti, do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Unicamp, aponta que embora a queda do setor pareça pequena, o número é muito representativo. “A queda não é pouca, porque ela já vem em cima de uma base muito ruim, a indústria vem perdendo espaço há muito tempo, portanto uma queda em cima de queda é muito negativa. Uma péssima sinalização contra a indústria brasileira. Isso reflete uma perda importante de competitividade para vários fatores”, afirma.
Para a economista, Juliane Furno, este encolhimento na indústria não é ocasional. “A queda reafirma uma opção que o Brasil tem feito que é de avançar no processo de desindustrialização. Desde o impeachment da presidenta Dilma, o Brasil não tem exercido nenhuma política industrial”.
Outro destaque nos dados do IBGE são as quedas mais acentuadas da produção de bens intermediários e de bens de capital.
São chamados bens intermediários as matérias-primas empregadas na produção de outros bens ou produtos finais. Sarti aponta que o recuo se dá por conta de um favorecimento do capital estrangeiro em detrimento da indústria nacional
“Com a economia cada vez mais aberta e com a presença de um número cada vez maior de empresas estrangeiras, o Brasil tem ampliado de forma bastante significativa o coeficiente de importação e o conteúdo importado também dentro da produção nacional.”
Já para Furno, a tendência é que as indústrias de matéria-prima voltarem a ser o foco do país, em detrimento do setor de bens de capital. Esse setor é responsável pela produção de mercadorias, máquinas e equipamentos mais caros e com maior complexidade tecnológica.
“O recuo do setor de bens de capital significa que a gente está desindustrializando a economia, porque a gente está perdendo o setor nacional que fornece o maquinário para a atividade industrial. Sem esse setor desenvolvido, a gente importa essas máquinas e equipamentos. Para importar, pagando em dólares, a gente compromete grande parte das divisas da moeda estrangeira brasileira. Ou seja, isso tem um custo de arrecadação para o Estado”, analisa Furno.
A especialista indica que o Brasil está se encaminhando para voltar a ser um país de indústria de matéria-prima e um importador de bens tecnológicos de alto valor. “O que está se apontando para atividade industrial é mais uma vez uma concentração no setor primário exportador, que tem menor valor adicionado, tem menos trabalho, menos conteúdo tecnológico”, ressalta.
Reação em cadeia
Para os especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, não há perspectiva de melhora na indústria brasileira, devido à ausência de uma política industrial do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e à falta de investimentos em tecnologia.
Furno explica que o setor industrial é estruturante e garante uma cadeia de geração de empregos, uma vez que a indústria é a área que mais gera o que os economistas chamam de "sinergia ou externalidade".
“Então se você gera, por exemplo, emprego no setor de serviços ou melhora o setor de serviços isso não necessariamente vai ter um efeito de se espalhar para a economia como um todo. Diferente do industrial. Um emprego gerado nesse setor gera vários empregos indiretos no setor de serviços e no comércio, faz demanda por matérias-primas, que faz demanda para indústria extrativista. Então o efeito que a gente chama de multiplicador econômico está muito ligado a indústria. Não existe até hoje nenhum exemplo de um país que tenha se desenvolvido, superado o subdesenvolvimento sem ter apostado na indústria”, aponta a especialista.
Fernando Sarti reforça a reação em cadeia que o decréscimo na produção industrial brasileira acarreta. “Cada vez mais a economia vem passando por esse processo, não apenas de estagnação e baixo crescimento, mas gerando problema com emprego, com precarização do trabalho, afetando o poder aquisitivo da sociedade, sobretudo, na faixa menos favorecida. Com isso você não estimula o consumo de uma forma virtuosa”, conclui.
Edição: Rodrigo Chagas