A paralisação nacional dos petroleiros chega ao seu quinto dia com a adesão de cerca de 18 mil trabalhadores, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Na manhã desta quarta-feira (5), com o objetivo de ampliar o diálogo com a população e alertar sobre os prejuízos causados pela política de privatização e desmonte da Petrobras, sindicatos da categoria subsidiaram a compra de gasolina e gás de cozinha em diferentes estados do país.
No Espírito Santo, por exemplo, o litro do combustível foi vendido a R$2. Já em Alagoinhas, na Bahia, um botijão de gás de gás estava à venda por R$50. Em Canoas, no Rio Grande do Sul, a R$40. O mesmo subsídio também foi oferecido aos moradores de Araucária, no Paraná.
Segundo a FUP, a ação mostra como os brasileiros são punidos pela atual política de reajuste de preços de derivados do petróleo adotada pela estatal, que acompanha o preço internacional do barril do petróleo, sujeito à variação do dólar, desencadeando aumentos sucessivos.
A partir da ação de subsídio, os sindicatos também argumentam que é possível vender o gás de cozinha a custo de produção nacional, mantendo o lucro das distribuidoras, revendedoras e da própria Petrobras.
Por tempo indeterminado
Em greve desde o dia 1º de fevereiro, os petroleiros protestam contra a demissão de mais de mil trabalhadores com o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), subsidiária da Petrobras, e o descumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Localizada em Araucária, a Fafen é uma das mais importantes unidades de fertilizantes nitrogenados do país. Criada em 1982, foi privatizada pelo governo Itamar Franco na década de 1990 e estatizada novamente por Dilma Rousseff, em 2013.
A FUP denuncia que demissões em massa ocorreram sem nenhuma comunicação prévia ao sindicato ou à própria Federação. Ainda de acordo com a entidade, a paralisação segue por tempo indeterminado e já alcançou 30 unidades do chamado Sistema Petrobras em 12 estados brasileiros.
No dia anterior ao início da greve, um grupo de cinco dirigentes da FUP, que é considerada a maior entidade representativa dos petroleiros, ocuparam uma sala no quarto andar do prédio da estatal, localizado no Rio de Janeiro.
Tadeu Porto, um dos sindicalistas que participa da ocupação, afirma que a água e energia foram cortadas e só foram estabilizadas novamente após pressão de uma vigília formada por diversos movimentos sociais, sindicais e parlamentares do lado de fora do prédio.
“Nós só vamos sair depois que o pleito da categoria petroleira for atendido. Queremos dar uma saída digna para esses companheiros e companheiras. Nossa ideia principal é manter a fábrica [Fafen] produzindo. Com os empregos lá dentro, com fertilizante dentro do Brasil, com a tecnologia e com a indústria brasileira”, defende Porto.
O dirigente da FUP critica a política da Petrobras, alinhada ao capital estrangeiro em detrimento dos trabalhadores e da economia nacional, assim como a falta de diálogo com as entidades representativas do setor.
“Sabemos que não é desejo da empresa negociar. Ela não quer que resistamos a esse desmonte. Sabemos que o plano de privatização da Petrobras é um dos maiores desse governo e não só dele, mas da agenda neoliberal do Brasil que deu um golpe de Estado muito provavelmente para tomar conta desse petróleo”, denuncia.
Solidariedade
O acampamento formado do lado de fora da sede da petrolífera, no Rio de Janeiro, conta com apoio de dezenas de sindicatos da categoria, assim como partidos e organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Levante Popular da Juventude, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Nesta quarta-feira (5) acontece uma série de atividades no local, como oficina de batucada, panfletagem e duas aulas públicas com Dorival Gonçalves Júnior, professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Tadeu Porto acredita que, em meio a tantos retrocessos, o movimento de greve pode inspirar trabalhadores de todas as categorias.
“Nosso objetivo é que essa mobilização consiga salvar empregos no Brasil, que consiga reverter o quadro de desindustrialização e desemprego, e mostre para as outras categorias que quem tem a força efetivamente é a classe trabalhadora. O que está faltando pra gente é nos organizarmos um pouco melhor”, completa o dirigente da FUP.
Edição: Rodrigo Chagas