Contra os crescentes casos de feminicídio no país e em memória da professora de dança Maria da Glória Poltronieri Borges, vítima de estrangulamento e violência sexual no dia 26 de janeiro, dezenas de pessoas protestaram em São Paulo na tarde deste sábado (8).
Além de Magó, como a bailarina era carinhosamente chamada, outras vítimas de feminicídio também foram lembradas. Entre elas a professora de capoeira Cristiane Soares. Conhecida como Cris Nagô, foi assassinada aos 43 anos com três tiros no último sábado (1), em Campina Grande, na Paraíba.
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O ato em São Paulo teve concentração na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, a partir das 14h, e seguiu até o Theatro Municipal, no centro da cidade. Emocionados, familiares, amigos e ativistas caminharam com girassóis na mão. Entre eles, Mariana Poltronieri Barreto, prima de Magó.
"A Maria Glória é e foi um ser de luz. Ela sempre trouxe essa luz em todos lugares que frequentou, sendo na dança, sendo na capoeira, no maracatu. Por onde ela passava, deixava essa essa luz de esperança pra esse mundo que precisa tanto nesses dias com tanta violência e falta de respeito", afirma Poltronieri.
De forma enfática, ela condena a estrutura de violência que vitimou Magó e atinge diariamente dezenas de mulheres."Todos nós que temos um coração que pulsa queremos um basta na violência. Para que as mulheres possam andar livremente, independentemente da onde elas queiram ir e fazer. Nenhuma a menos", ressalta.
Mariana acredita que a partir da repercussão nacional do assassinato de Magó, é possível dar visibilidade para outras vítimas. "A Maria Glória está trazendo a voz de muitas mulheres que já sofreram essa violência. A única coisa que pode nos dar força nesse momento pra continuar é o amor. E a Maria Glória era puro amor", completa.
Para Daniely Oliveira, atriz e dançarina que conhecia Magó e teve oportunidade de trabalhar com a bailarina, o número crescente de violência contra mulher não pode ser analisado sem considerar o contexto político brasileiro.
"Nosso país está passando por uma onda de retrocessos muito grande e retirada de direitos das mulheres. Isso só abriu brecha para a violência contra as mulheres crescer, principalmente em um país onde a cultura do estupro e o machismo são muito impregnados", analisa a também integrante do coletivo feminista Olga Benário.
A atriz critica as declarações da gestão Bolsonaro em relação às mulheres e outras minorias. "É como se o governo legitimasse atos violentos contra o corpo das mulheres". Também militante do movimento negro, ela sublinha que as mulheres negras são maioria entre as vítimas do feminicídio e de casos de agressão.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019, 1.151 mulheres foram vítimas de feminicídio em todo país em 2017. No ano seguinte, o número passou para 1.206. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, onde Magó foi assassinada, 73 mulheres foram vítimas de feminicídio de janeiro a outubro do ano passado.
O corpo da dançarina e produtora cultural foi encontrado na trilha de uma cachoeira, a 800 metros do local onde estava hospedada. Até o momento, os responsáveis ou responsável pelo crime não foram identificados. A Polícia Civil de Maringá aguarda dados do material genético encontrado no corpo de Magó, para cruzar com o DNA de suspeitos.
Homenagens
Além dos girassóis, o ato em São Paulo contou com a participação de coletivos feministas e de diversos grupos de capoeira. Tanto Magó quanto Cristina Nagô eram praticantes da arte. A mestre de capoeira Andressa Marques destaca a importância dos atos que aconteceram em todo Brasil em homenagem à elas. Na opinião de Marques, os protestos são uma ferramenta essencial para que a sociedade esteja alerta sobre os casos de feminicídio.
"Em uma semana perdemos duas pessoas que tinham relação direta com a capoeira. Isso toca muito todos os capoeiristas e principalmente nós, mulheres, que lutamos contra a violência na sociedade e dentro da capoeira. É essencial que nos juntemos e possamos conversar sobre o assunto", diz a mestra, conhecida como Dedê.
Feminicídio
A lei que tipifica o crime de feminicídio entrou em vigor apenas em 2015. De acordo com a lei são considerados feminicídio crimes contra mulheres “por razões da condição do sexo feminino”, onde há “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
Edição: Leandro Melito