Na comemoração pelos 40 anos do Partido dos Trabalhadores, no sábado (8), no Rio de janeiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas à precarização e flexibilização das leis trabalhistas e disse que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) é quem deveria fazer uma autocrítica para explicar por que 12 milhões de brasileiros estão desempregados.
“O que será da nossa juventude? Nem todo mundo pode ser jogador de bola, atleta ou ganhador da Mega Sena. As pessoas precisam trabalhar e trabalhar com salário decente. Eu quero saber se é apenas o mercado que vai reger as nossas condições de vida ou se o Estado vai agir para proteger milhões de brasileiros”, afirmou o petista, acrescentando que os jovens estão frustrados por não conseguirem bons trabalhos.
Segundo o ex-presidente, ficou normal no Brasil ver jovens com diploma universitário entregando pizza de bicicleta. “Temos que valorizar o trabalho, mas as pessoas estão regredindo nas conquistas que elas imaginaram que teriam. Você não sabe mais quem é teu patrão, não tem mais férias. O ser humano está sendo tratado da forma mais canalha em nome de uma palavra chamada flexibilização ou em nome de uma palavra chamada empreendedorismo individual”.
Ao lado do ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, convidado para a comemoração, Lula lembrou que tinha mais estabilidade como torneiro mecânico do que o jovem com muito mais anos de estudo tem hoje. O petista disse que o discurso tecnológico prometia muitos benefícios, mas que ele agora provoca desemprego, e não existem políticas públicas para frear e reverter essa situação.
“Hoje, as pessoas trabalham na hora do almoço, no banheiro, trabalham uma infinidade de horas sem saber que estão trabalhando e sem ganhar nada por isso. A vida melhorou? A vida não melhorou. Como consumidor, a vida é maravilhosa. Eu pago conta pelo telefone, peço pizza no aplicativo. Mas quem é que vai garantir que essas pessoas possam ter um trabalho? Essa responsabilidade é do Estado”.
O ex-presidente do Uruguai pediu aos jovens que pensem menos em consumir “para que não sejam escravos das contas” e se comprometam mais em dar afeto, fazer política e lutar por justiça e igualdade. “O mundo não vai mudar sozinho, é preciso construir mais seres humanos coletivos. O mundo só muda se os jovens se juntam e lutam. Vim ao Brasil apostando que há um Brasil possível nas mãos dessa juventude”.
O ex-senador Lindbergh Farias conclamou que os jovens presentes na Fundição Progresso, na Lapa, região central do Rio, façam política e se filiem ao PT. Lindbergh pediu aplausos para os petroleiros, trabalhadores do Dataprev e servidores de outras estatais que vêm realizando greves para lutar contra a tentativa de Bolsonaro de provocar o desmonte e a privatização das empresas públicas.
Frente progressista
A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), agradeceu pela presença do deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) e da ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), e dos presidentes do PSB, Carlos Siqueira, e do PDT, Carlos Lupi. Gleisi afirmou que cada partido tem sua estratégia, mas que as eleições de 2020 são uma oportunidade para falar de um programa social que unifica a frente progressista.
“Esses cinco partidos se reúnem sistematicamente depois das eleições de 2018, apesar da imprensa tentar fazer fofoca para gerar conflitos. Esses partidos estiveram juntos na luta contra a reforma da Previdência, na defesa da educação brasileira, na formação da frente em defesa da soberania nacional. Estiveram juntos quando apresentamos a proposta da reforma tributária que inverte a injustiça social desse país”, comentou Gleisi.
Durante um debate sobre a unidade progressista para combater o neoliberalismo e a extrema direita, Marcelo Freixo disse que a comemoração de quatro décadas do Partido dos Trabalhadores e a liberdade de Lula não representam apenas “uma vitória do PT, mas de todos que defendem a democracia”.
“Talvez esse encontro seja já o indício de algo muito importante que pode acontecer, que é a busca da unidade. Precisamos buscar a união porque a situação mudou para pior. Precisamos estar juntos em muitas datas e ter um programa em comum. Nós não temos que resistir ao governo Bolsonaro. Temos que destruir o governo Bolsonaro. Resistir é ganhar tempo. Precisamos de algo mais do que suportar”, declarou.
Para a ex-deputada Manuela D’Ávila, que também participou do debate, o Brasil voltou a ver a miséria que não via há anos. A pior crise da história do capitalismo global e o momento em que o neoliberalismo se apresenta de forma mais cruel, segundo ela, é o sinal para a união dos partidos de esquerda, dos sindicatos e trabalhadores e dos movimentos populares.
“Precisamos nos unir diante do verdadeiro colapso ambiental que se desenha no mundo. Um exemplo é o que acontece na Amazônia. Precisamos nos unir, porque a miséria é cada vez maior, porque voltamos a ver imagens que não víamos. Lembro de quando deixei de ver criança em situação de rua”, afirmou.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Vivian Virissimo