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Meu amigo Manetti e a precarização do emprego

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12-02-20 - Carteira de Trabalho
Com a reforma trabalhista do governo Temer, trabalhador que perde a causa pode ser obrigado a pagar as custas processuais - Marcello Casal Jr. | Agência Brasil
Pior do que o emprego atual, só o próximo

O governo tem comemorado uma coisa que vem acontecendo: cada vez menos, a Justiça do trabalho é procurada por trabalhadores que se sentem lesados pelos patrões.

Não é que a situação melhorou, ao contrário. Os direitos dos trabalhadores estão cada vez mais precários, as leis trabalhistas estão cada vez piores, e a Justiça acaba decidindo contra os trabalhadores muitas causas que deveriam ser a seu favor.

E desde o desgoverno de Michel Temer (MDB) tem uma novidade: quando o trabalhador perde uma causa, ele é obrigado a pagar as supostas custas do processo à Justiça.

Então o sujeito ferrado fica ferrado e meio. Não recebe o que merecia e ainda tem que pagar. Por isso a Justiça do trabalho é cada vez menos acionada.

As mudanças das leis trabalhistas, segundo Temer, os capitalistas e seus puxa-sacos, tinham a finalidade de criar milhões de empregos. Mas o resultado a gente vê na quantidade de moradores de rua se multiplicando, por exemplo, em São Paulo. E também gente que parte para subempregos, sem direitos trabalhistas, se virando para sobreviver.

E os economistas, jornalistas puxa-sacos e bobos chamam esses “se virantes” de empreendedores.

Esse negócio da precarização dos empregos me faz lembrar de um amigo, o Manetti.

Eu o conheci quando comecei a trabalhar no Sesc de São Paulo, e ele também. Era um emprego muito bom. Um dia fui demitido porque colaborava em jornais que faziam oposição ao governo. E o Sesc, na época, era dirigido por puxa-sacos da ditadura.

Pouco depois, fiquei sabendo que o Manetti também foi demitido.

Arrumei então um trabalho numa fundação chamada Cenafor, que tinha programas ligados à educação e ao treinamento de pessoal. E o Manetti apareceu por lá também.

O trabalho não era tão bem remunerado como o do Sesc, mas era razoável. Só que durou pouco.

Tempos depois, fui trabalhar no Senai, escrevendo cursos de ensino a distância. E não é que o Manetti também foi trabalhar lá?

E fomos demitidos no mesmo dia, de novo por motivos políticos. A direção do Senai também era puxa-saco da ditadura.

Encontrei com ele na hora de assinar os termos da demissão, e ele me falou que estava lembrando de um governador de Minas Gerais de antigamente, o Benedito Valadares, tão puxa-saco de presidentes que uma vez declarou: “Melhor do que o presidente atual, só o próximo”.

Mas o que tinha isso com a nossa situação? Ele falou: “Trabalhamos no Sesc, depois no Cenafor, depois no Senai... Pior do que o emprego atual, só o próximo."

Edição: Geisa Marques