Legislativo

Partido do primeiro-ministro da Índia perde as eleições locais da capital Delhi

Dos 70 membros eleitos para Assembleia, apenas oito são do BJP; resultado é considerado termômetro das pautas nacionais

Nova Delhi (Índia) |

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narendra modi
Político de extrema direita aliado de Jair Bolsonaro, Modi é o primeiro-ministro da Índia desde 2014 - Arquivo/AFP

O resultado das eleições locais do Território da Capital Nacional de Delhi, na Índia, foi divulgado na noite desta terça-feira (11) e representou uma derrota política do primeiro-ministro Narendra Modi, de extrema direita. O partido dele, Bharatiya Janata Party (BJP), terá apenas oito das 70 cadeiras na Assembleia Legislativa local. Os demais assentos serão comandados pelo Aam Aadmi Party (AAP), de centro. Arvind Kejriwal (AAP) foi reeleito para o cargo de ministro-chefe de Delhi.

Embora envolva mais de 20 milhões de cidadãos, o Território da Capital Nacional de Delhi tem menos atribuições que outros estados, já que há um nível maior de atrelamento às decisões do governo central. Mesmo assim, havia expectativa no país inteiro sobre as eleições realizadas no último domingo (9), justamente porque as pautas nacionais tomaram conta da disputa local.

Temas como o aumento das taxas para estudantes de universidades públicas e mudanças na lei de cidadania que discriminam a população muçulmana foram debatidos intensamente pelos candidatos. Na última semana, a divulgação do orçamento nacional com cortes em programas sociais, reflexo da crise, também impactou na campanha, segundo analistas. Os mais de 20 mortos nos protestos contra a nova lei de cidadania também teriam prejudicado o desempenho do BJP.

"Esta é uma vitória para a mãe Índia", disse Kejriwal a seus apoiadores após a divulgação do resultado. A declaração é uma referência óbvia ao nacionalismo hindu defendido por Modi, que viola a Constituição de 1947 ao pretender segregar cidadãos de outras religiões, segundo opositores.

Desde que assumiu o cargo, em 2014, Modi adota abertamente a chamada "Hindutva", ideologia de direita que busca definir a cultura indiana a partir dos valores hindus. Essa postura rompe com uma tradição de quase 70 anos em que o secularismo, ou laicidade do Estado, foi considerado um princípio fundamental.

O primeiro-ministro indiano é um dos principais aliados internacionais de Jair Bolsonaro (sem partido). Os dois assinaram 15 acordos entre Brasil e Índia em janeiro e prometem estimular ações de cooperação nos próximos anos.

Ainda que o BJP tenha eleito cinco candidatos a mais que nas eleições anteriores, de 2015, esperava-se um salto mais expressivo. Afinal, o partido envolveu quase 300 deputados federais na campanha, em uma tentativa de desviar os debates da pauta econômica e polarizar os debates em torno da nova lei de cidadania. 

Modi não demorou a acusar o golpe. Mesmo antes do resultado oficial, ele reconheceu a derrota no Twitter. "Parabéns ao AAP e ao Arvind Kejriwal pela vitória nas eleições para a Assembleia de Delhi. Espero deles o melhor para satisfazer as inspirações das pessoas de Delhi", publicou às 10h do horário local.

O ministro-chefe reeleito também usou a rede social para agradecer a mensagem e disse contar com o apoio do governo central em seu próximo mandato.

Edição: Rodrigo Chagas