Mineração

Trabalhadores rurais de Carajás (PA) mantêm acampamento em protesto contra a Vale

Grupo pede pagamento de indenizações que teria sido prometido para janeiro. Empresa diz que processo está em andamento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestações completam dez dias - Arquivo/ Produtores Rurais da Serra do Rabo

Dez dias após o fechamento de um trecho da ferrovia por onde passa o minério produzido no maior complexo mineiro da Vale, produtores rurais de Canaã (PA) seguem com manifestações diárias e acampamento montado em frente ao projeto.

Os moradores da área rural Serra do Rabo pedem o pagamento de indenizações para quase 100 famílias que vivem no Parque Nacional dos Campos Ferruginosos. A unidade de preservação foi criada em 2017 como contrapartida para que a Vale conseguisse a licença de operação do Complexo S11D.

As tensões aumentaram nesta semana quando um produtor da região, que participa das manifestações, recebeu uma multa de R$20 mil reais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) por crime contra a flora.

Na quarta-feira (12), em solidariedade aos produtores, um grupo de moradores da região interditou a estrada de acesso ao projeto Sossego, primeira iniciativa de extração de cobre da Vale.

O Brasil de Fato teve acesso à gravação de uma reunião em outubro do ano passado entre a mineradora, os moradores, o ICMbio e o prefeitura de Canaã. No encontro um representante da Vale afirma que o pagamento das indenizações começaria a ser resolvido em janeiro.

 


Grupo de produtores rurais protesta em frente ao maior complexo da Vale (Foto: Arquivo/ Produtores Rurais da Serra do Rabo)

Daniel Medeiros, representante da comunidade, afirma que a promessa não foi cumprida e que desde então os produtores encontram dificuldades em dialogar com a mineradora.

“Enganaram todo mundo que estava na reunião. É uma empresa que vem para a casa da gente, para o município da gente, minera, ganha bilhões de dólares todos os dias e está aí, mentindo para a sociedade. Não faz o papel de uma empresa com responsabilidade social. Mente para todo mundo, engana todo mundo, dá calote em produtor rural. Nós estamos cansados.

Segundo Medeiros, desde que se instalou na região, a Vale passou a mandar no entorno. "Estamos em uma situação muito delicada. Às vezes a gente tem a sensação de que a melhor coisa era que a Vale não tivesse vindo para cá. Tem gente saindo daqui, um município com arrecadação milionária, e indo para outros municípios produzir. Em algumas ruas de Canaã, a cidade parece uma cidade fantasma”, completa.

A Vale afirma que está empenhada em resolver o problema com o ICMBio. Por meio de nota a mineradora informou que ambos “procedem os trâmites finais para formalização e assinatura de acordo de cooperação técnica entre o órgão ambiental e a empresa. O acordo representará a primeira etapa para o início do processo de regularização fundiária no Parque Nacional dos Campos Ferruginosos, sob a coordenação do ICMBIO. A Vale permanecerá apoiando o órgão nas indenizações devidas e continua comprometida com a resolução da questão.”.

Nesta semana, o advogado de defesa dos produtores enviou pedido de reunião com advogados da empresa para a Gerência de Relacionamento da Vale, mas, de acordo com os trabalhadores, até agora não houve resposta. 

Edição: Rodrigo Chagas