Os blocos de carnaval que saíram em cortejo no último final de semana em Belo Horizonte foram surpreendidos pela Polícia Militar, que apreendeu um trio elétrico e multou proprietários dos carros de som por irregularidades na documentação dos veículos. As abordagens foram realizadas no momento dos desfiles.
Nos documentos deveria constar que os veículos estavam adaptados para o uso como trio elétrico, o que não constava. No entanto, o questionamento dos blocos é que, antes de serem liberados para os cortejos, todos os carros são avaliados para que a segurança seja atestada ou não, e os veículos – que são utilizados por muitos blocos da cidade, há alguns anos – foram devidamente aprovados pelos órgãos competentes, a partir de laudos técnicos e avaliações dos bombeiros. Outra questão é que a alteração nunca teria sido exigida anteriormente.
Sem a liberação dessa documentação, os músicos não podem tocar em cima dos trios elétricos, o que prejudica irreversivelmente o alcance do som e a utilização de certos instrumentos como guitarra e bateria, além do transporte de equipamentos como cornetas, caixas de som, etc.
“Tem 15 blocos que correm o risco de não acontecer, ou no mínimo, não saírem da forma que foram planejados ao longo de oito meses, por causa de uma informação que não foi repassada”, desabafa um dos coordenadores do Alô Abacaxi, Lujakson Alves. Além do Alô, alguns dos blocos que utilizam o carro apreendido ou outros na mesma situação são o Garotas Solteiras e o Samba do Queixinho.
Entenda
Lujakson explica que os blocos não criticam a necessidade de novos documentos, mas a maneira e o período da cobrança, de surpresa, a poucos dias do início do carnaval e até mesmo na hora exata dos cortejos dos blocos.
O requisito nunca teria sido cobrado ou citado, assim como a Polícia Militar também não teria participado das reuniões com os órgãos públicos, que começaram a acontecer em meados de setembro de 2019.
"A gente está buscando diálogo, só estamos pedindo isso. As portas estão todas abertas para sentar com a PM e conversar, trazer soluções. A gente quer uma festa segura, que represente a nossa cultura mineira. Com a polícia, a guarda municipal, a Copasa [Companhia de Saneamento de Minas Gerais] e o que for para que essa festa seja boa para todo mundo. Todo mundo ganha", declara o integrante do Alô.
Ele afirma que a segurança sempre foi uma pauta valorizada por todos os blocos. “É muito esforço, ao longo do ano, para planejar a segurança. No final das contas, a gente está ali assinando um documento que fala que nós somos os responsáveis por aquela festa. Se acontece alguma coisa, são os produtores que vão assumir. A gente não quer colocar ninguém dentro de um trio que não é seguro, mas queremos saber quais são as medidas seguras com antecedência para que possamos providenciá-las”, diz.
Mateus Brant é integrante do Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro, um dos blocos mais prejudicados com a situação, já que teve o carro de som apreendido logo ao final do cortejo, no sábado (16). Ele também condena a falta de comunicação.
Fica parecendo que o carnaval é caso de polícia
"Ano após ano e estamos com esse problema muito grave, porque a polícia não sabe conversar com as instâncias que fazem parte do carnaval, até com a própria prefeitura. Aí fica parecendo que o carnaval é caso de polícia, como já foi há alguns anos. A atuação é desproporcional, pouco razoável e tem que ser repensada. Não faz sentido uma fiscalização no dia e sem qualquer orientação”.
Não é novo
Queixas em relação à falta de diálogo da PM já repercutiram em outros carnavais, como registrou a reportagem do Brasil de Fato. Em 2018, uma carta aberta contra a repressão da Polícia Militar foi assinada por mais de 60 blocos que participaram do carnaval de Belo Horizonte. No carnaval do ano passado também foram registrados relatos de agressões e censura da Polícia Militar durante a festividade.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da PM, que não respondeu até a publicação deste texto, sujeito à atualização.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Elis Almeida