São Paulo

Por determinação da PM, Prefeitura proíbe saída do bloco da Cracolândia

PM alega falta de segurança e autorização é cancelada no dia do evento. Organização diz que o bloco vai sair

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
“É uma tradição da cracolândia. Chega em outubro o pessoal já está perguntando se vai sair o bloco", explica Raphael Escobar, um dos organizadores do Blocolândia - Júlia Dolce/Brasil de Fato

A Polícia Militar do Estado de São Paulo cancelou a autorização da saída do Blocolândia, o bloco de carnaval dos trabalhadores, usuários e militantes da Cracolândia, previsto para esta sexta-feira (21), na região da Luz, na capital paulista. A decisão foi publicada pela manhã no Diário Oficial da União e teve como justificativa a falta de segurança. 

A organização garante a saída do “Blocolândia” e alega que todos os trâmites legais para o cadastro do bloco foram realizados. Segundo Raphael Escobar, um dos organizadores, a alegação da PM para barrar a saída do bloco é "mesquinha".

“Falaram que é por conta de segurança, que pode ter tiroteio. Em 5,6 anos de bloco nunca vi nada acontecer, nem um celular saiu de lá. Eu acho muito triste, isso. Está bem claro que são motivações políticas, que é preconceito. Nós não podemos ter carnaval, é disso que a gente tá falando”, desabafa Escobar, integrante da organização Craco Resiste. Ele questiona o fato de o Blocolândia ter sido o único bloco proibido entre os 900 blocos da cidade de São Paulo.

Como tentativa de reverter a decisão, a organização entrou em contato com o Secretário Municipal de Cultura, Alexandre Youssef, que garantiu que a Secretaria de Segurança está irredutível. 

Os parlamentares Eduardo Suplicy (PT),  Soninha Francine (PPS) e assessores de Youssef garantiram que estarão presentes no local, com o intuito de não permitir repressão e violência policial.
 


Determinação da PM foi publicada na edição desta sexta-feira (21) / Diário Oficial do Município de São Paulo

Reinserção social

Criado em 2015, o Blocolândia é uma articulação de trabalhadores, usuários e militantes da região conhecida como Cracolândia, na zona central da cidade. O dia do desfile do bloco, é quando todos se unem para uma festividade que propõe a reinserção social por meio da cultura e do lazer.

A iniciativa do bloco carnavalesco ocorre, segundo os organizadores, em um contexto onde direitos básicos vêm sendo violados à população vulnerável da região, por meio do desmonte dos serviços de cuidado à saúde e assistência social. A saída do bloco, na opinião de Escobar, é a grande oportunidade para os usuários ocuparem os territórios onde normalmente são discriminados e proibidos de circular.

“É uma tradição da cracolândia. Chega em outubro o pessoal já está perguntando se vai sair o bloco. O fluxo espera muito isso. Eu tenho muita alegria de ver isso acontecer. É a hora que a Cracolândia sai para andar no território da Luz, passa na frente aos vizinhos que normalmente acham que eles têm que sair de lá, e os vizinhos dançam com eles. Passa na frente dos centros culturais do território, que normalmente não deixam eles entrarem. É o momento que todo mundo esquece que eles são usuários de crack. Todo mundo deixa de falar sobre o crack e fala das qualidades que essa galera tem. São as outras histórias sendo contadas que não são as do crack.”

Edição: Rodrigo Chagas