Maria Salistiano Cardoso é moradora da comunidade do Bom Futuro, que fica a 300 metros da bacia de rejeitos sólidos da mineradora Hydro Alunorte, a DRS-1, em Barcarena, no nordeste do Pará. A comunidade foi uma das mais atingidas pela lama vermelha da bacia de rejeitos de bauxita da mineradora, segundo laudo do Instituto Evandro Chagas, depois de um desastre ambiental na madrugada do dia 17 para o dia 18 de fevereiro de 2018.
A moradora denunciou a contaminação das águas, das plantas, dos animais de seu pequeno sítio na comunidade. Neste vídeo da série “Vozes que Resistem”, ela conta sobre as ameaças que sofre por causa das denúncias. As ameaças partem de pessoas da própria região, mas ninguém foi preso ou investigado pela polícia.
“Eu não tenho nada a temer, eu não tenho não. Não saio daqui corrida porque eu não prejudiquei ninguém, eu não fiz mal a ninguém. Já tinha acontecido a primeira vez [desastre]; aconteceu a segunda, ninguém fez nada. Agora na terceira, todo mundo botou a boca no trombone porque era demais, era demais”.
Maria também relata que não tem mais saúde por causa da contaminação da água e do solo. “Eu tomo o açaí – e não é só eu -, mas dá diarreia em todos nós. Se eu como uma goiaba, se a gente come algum cupuaçu que dá… olha, a pupunha… tudo dá. Tudo isso. É uma coceira, uma coceira que dá no corpo da gente. Tenho cansaço. Eu não tinha uma dor de cabeça assim, de repente que me dá”.
Quando chega o mês de fevereiro e se aproxima o mês de março, Maria Salistiano Cardoso diz que o temor de um novo desastre reacende. “Tenho medo de morrer subterrada”, diz ela. Apesar das doenças e dos danos ambientais, ela diz que nunca foi indenizada pela mineradora.
A mineradora Hydro Alunorte, que é de propriedade da multinacional norueguesa Norsk Hydro, nega o vazamento da barragem de rejeitos de bauxita em 2018.
Naquele ano, segundo a prefeitura de Barcarena, 2.007 famílias – cerca de 10 mil pessoas – das comunidades de Burajuba, Vila Nova e Bom Futuro, foram atingidas pelo vazamento da bacia DRS 1.
A empresa Hydro Alunorte foi multada em R$ 20 milhões pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Por determinação do Ministério Público Federal (MPF), a mineradora fornece água potável aos moradores há dois anos. Mas há moradores que nunca receberam a água custeada pela empresa. Os rios, lagos e poços artesianos ficaram contaminados por poluentes tóxicos, conforme apontou laudos do Instituto Evandro Chaves (IEC), órgão ligado ao Ministério da Saúde.
Em 2009, quando a Hydro era sócia minoritária da Alunorte – a majoritária era a então Companhia Vale do Rio Doce -, a população de Barcarena foi exposta à contaminação de produtos tóxicos das bacias de rejeitos. Na ocasião, o Ibama aplicou três autos de infração contra a mineradora pela poluição e lançamento de bauxita no rio Murucupi. Segundo o Ibama, as multas somaram R$ 17,1 milhões.
A série “Vozes que Resistem” produz minidocumentários para visibilizar a luta de defensores dos direitos humanos ameaçados na Amazônia. A série da agência Amazônia Real começou com a história de Erasmo Alves Teófilo, presidente da Cooperativa Agricultores da Volta Grande do Xingu, em Anapu, no oeste do Pará. Veja aqui e compartilhe em suas redes.