Tradição

Bloco exalta cultura periférica em apresentação afropercussiva no centro de São Paulo

Embondeiro Queixada leva tradição dos tambores ao carnaval paulistano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bloco Embondeiro Queixada faz referências aos orixás das religiões afrobrasileiras e homenageia a cultura negra - Foto: Vitória Rocha/Brasil de Fato

Embalado pela ancestralidade, o bloco afropercussivo Embondeiro Queixada animou a tarde do carnaval paulistano no centro histórico de São Paulo, em frente ao Centro Cultural Olido, neste domingo (23). Fundado em 2017 por moradores de Perus e região, o Embondeiro é resultado de um grupo de estudos e vivência da tradição do toque de tambores. 

"Estar na rua hoje com nosso bloco é importante porque representa a continuidade da luta e resistência da cultura negra, periférica, marginalizada. Neste momento de retrocessos, de retirada de direitos sociais, nós mantemos firme a nossa postura em defesa dos direitos sociais fundamentais", explica o educador Almir Moreira, o Almirante, um dos coordenadores do Emboeiro. 

 


 

O nome do bloco, assim como o som de sua percussão, também exalta a força e tradição da cultura negra e do movimento dos trabalhadores. "Esse bloco foi fundado na Comunidade Cultural Quilombaque e a gente vem trazendo os ritmos afrobrasileiros para a comunidade. Para que a população do nosso bairro, que é majoritariamente negra e nordestina, possa entender a relação da nossa região com essa cultura", conta o arte educador Cleiton Ferreira, o Fofão, que é um dos coordenadores do Embondeiro. 

“Embondeiro” é uma outra forma de chamar a imponente árvore Baobá, característica de paisagens africanas, com 30 metros de altura. “Queixada” remete à forma como ficaram conhecidos os 1.400 trabalhadores da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus (CBCPP) que ficaram mais de 7 anos em greve, entre 1962 e 1969. Eles reivindicavam o pagamento de salários atrasados, cumprimento de acordos coletivos, reajustes e pagamento de verba para a casa própria. À época, os queixadas receberam apoio da opinião pública, de moradores da região e universitários. 

"A nossa luta é frequente. Trazemos o lema da firmeza permanente. Colocamos o bloco na rua como forma de resistência trazendo a luta preta para a rua. Trazemos a bandeira dos direitos humanos, contra o genocídio da juventude preta e fazendo uma homenagem aos orixás que nos guiam", finaliza Fofão. 


No próximo domingo (1), às 13h, o bloco volta a animar as ruas, na Casa de Cultura Hip Hop de Perus.

Edição: Douglas Matos