São 3.640 toneladas de óleo destilado e 294,8 mil toneladas de minério de ferro dentro do navio graneleiro MV Stellar Banner, que está encalhado a cerca de 100 quilômetros da costa maranhense desde a última segunda-feira (24).
A embarcação, da empresa sul-coreana Polaris Shipping, foi contratada pela Vale para levar os produtos até a cidade de Qingdao, na China. A tripulação saiu do terminal marítimo da Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão, quando por volta das 21h30 da segunda, detectou a entrada de água em compartimentos de carga, depois que o navio tocou o fundo do mar.
Caso o material de dentro do navio venha a vazar no mar, o ocorrido pode configurar o terceiro crime ambiental envolvendo a mineradora Vale em menos de cinco anos, ao lado dos crimes de Brumadinho, em 2019, e Mariana, em 2015.
Em nota distribuída à imprensa, a empresa Polaris Shipping afirmou que a “situação está sob controle”. Manchas escuras no mar, no entanto, podem ser observadas ao lado da embarcação.
Para se ter ideia da dimensão de um possível acidente ambiental, o navio, construído em 2016, mede 340 metros de comprimento, equivalente a três campos de futebol, tem 55 metros de largura e 21,5 metros somente de calado (profundidade dentro da água), com capacidade para 300 mil toneladas de material. Isso é o mesmo que 2.500 vagões de trens cheios de minério de ferro.
O professor do curso de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Fernando de Barros, afirma que é muito provável que a situação venha a desembocar em um problema ambiental, “porque o navio tem muito combustível e, afundando, vai gerar uma poluição grande no entorno prejudicando a vida aquática. Se afundar, vai vazar. Isso é inevitável, talvez eles consigam tirar o combustível, porque pelo menos minimiza o impacto”.
Barros explica que o óleo é sobrenadante, ou seja, fica sobre a água, impedindo a entrada de luz solar. “Consequentemente, isso gera impactos para a flora aquática, e também para os peixes, porque a água solar não entra e isso acaba prejudicando o desenvolvimento dos animais. E também acaba que outros animais, como pássaros, vão acabar bebendo esse material e vão morrer.”
Ele recomenda que o melhor a se fazer agora é tentar tirar o máximo possível de óleo da embarcação. Quanto ao minério de ferro, o impacto, explica o professor, não é tão expressivo quanto o do óleo.
Para ele, deve haver uma investigação em cima dos motivos que levaram a essa situação, “porque tantos navios transitam pelo oceano e é difícil acontecer isso. Deve ter havido um desvio de rota, tem que ver quem é o responsável por esse desvio que gerou esse problema”.
A Marinha do Brasil (MB) solicitou a apresentação de um plano de salvatagem do navio – procedimento de resgate após o desastre – aos representantes da empresa Ardent Global, contratada pela Polaris para fazer o transporte, e instaurou um inquérito administrativo para apurar as responsabilidades e causas do acidente.
“A MB enviou o Navio Hidroceanográfico (Nho) Garnier Sampaio, Navio de Apoio Oceânico (NApOc) Iguatemi e uma Aeronave (UH-15), do 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral do Norte, com previsão de realizar um sobrevoo ainda hoje na área de ação.
O emprego desses meios visa apoiar, fiscalizar e verificar a viabilidade dos planos de desencalhe para a retirada da embarcação do local”, afirmou o órgão em nota enviada ao Brasil de Fato.
Também por meio de nota, a Vale afirmou que enviou uma embarcação ao local para conter possíveis danos ambientais e solicitou à Petrobras navios Oil Spill Recovery Vessel (OSRV, ou navios de recuperação para vazamentos de óleo) para contenção de eventual vazamento.
A mineradora enviará boias oceânicas off shore, que podem servir preventivamente como barreiras de contenção adequadas para mar aberto, se necessário. A Vale informou que os 20 tripulantes foram resgatados e se encontram seguros.
Em 2017, um navio da da frota da Polaris Shipping, que é especializada no transporte de minério de ferro, afundou na costa uruguaia enquanto levava 260 mil toneladas de minério da Vale para a China.
Edição: Leandro Melito