No dia 23 de fevereiro, os reassentamentos Santa Inês e Nossa Senhora de Fátima, em Chopinzinho no Paraná, comemoram 25 anos da conquista da terra pelos atingidos e atingidas pela Usina Hidrelétrica de Itá (RS/SC).
Participaram da cerimônia de abertura os coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no reassentamento Santa Inês, Helio Mecca, Ari Longo e Ari Stefen, os presidentes de ambas as comunidades, além de Agileu Brondani, representando o reassentamento Nossa Senhora de Fátima, Marco Antônio Trierveiler, além de Robson Formica, da coordenação nacional do MAB.
Também estiveram presentes o prefeito de Chopinzinho na época da implantação dos reassentamentos, Enio Cenis, o prefeito atual, Álvaro Scolaro e a deputada Luciana Rafagnin (PT).
De acordo com Robson Formica, os reassentamentos de Chopinzinho são referências e inspiração para a luta em outros estados e regiões. O dirigente lembrou que o MAB tem sua gênese na busca de direitos às populações atingidas por barragens, mas que hoje também luta pela construção de um novo modelo energético, em contraposição ao atual. “Que atinge toda a população brasileira, que arca com uma das tarifas de energia elétrica mais caras do mundo às custas da exploração de nossos recursos e drenagem de nossas riquezas pelo capital internacional”, afirmou.
Projeto soberano e popular
O coordenador ressaltou também que o centro da construção de um projeto soberano e popular para o país são as necessidades concretas do povo e, quando este se organiza para a luta e tem oportunidades, constrói condições dignas de vida coletivamente.
Os projetos só foram possíveis a partir do empenho de muitos homens e mulheres, que se dedicaram a tornar real o sonho de dezenas de famílias atingidas pela barragem de Itá, seja fazendo a luta por direitos a partir da organização no MAB, seja pelas assistências técnicas que foram prestadas na época da implantação.
Helio Mecca relembrou a história de luta pela conquista de direitos. “Em 1980, quando viemos para Chopinzinho olhar a situação das famílias atingidas pelas barragens de Santiago e Salto Osório vimos que as pessoas não haviam recebido nada. Nós voltamos para o Rio Grande do Sul e falamos como Sepé Tiaraju: essa terra tem dono! E a barragem não seria construída sem que fossem garantidos os direitos dos atingidos”, afirmou.
Para não deixar a história morrer
A partir do enfrentamento do povo organizado no MAB, unindo milhares de famílias, foram construídas regras para que os atingidos e atingidas só deixassem seu lugar com garantia de indenização, de troca de uma terra por outra ou de reassentamento. Em 1987, foi assinado o primeiro acordo de garantia de direitos, entre os atingidos e a Eletrosul (estatal subsidiária da Eletrobras). Para Helio Mecca, “Esse foi o sonho que transformou nossa luta em uma grande vitória. Nós realizamos essa festa por dois motivos: primeiro, para não deixar a história morrer, porque um povo que não recupera e estuda a sua história, não analisa o presente. E quem não analisa o presente não projeta o futuro. O segundo é agradecer às entidades e todas as pessoas que de alguma forma se envolveram, nos ajudaram a construir esses dois projetos que hoje são um grande sucesso”,concluiu.
Homenagem ao povo
Para homenagear as pessoas que foram fundamentais durante o processo de construção dos reassentamentos, foi feita a inauguração de uma placa com os nomes gravados dos lutadores e lutadoras. Ao fim da cerimônia, a Coordenação Nacional do MAB presenteou ambas as comunidades com fotos emolduradas representando a luta do MAB e dos atingidos/as por barragens do Brasil, além de presentear a escola da Comunidade Santa Inês com materiais elaborados pelo movimento.