O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) identificou uma mancha de óleo de 830 metros quadrados próximo ao navio graneleiro MV Stellar Banner, que está encalhado a cerca de 100 quilômetros da costa maranhense desde a última segunda-feira (24).
Segundo o Ibama, o óleo detectado, que tem um volume estimado de 333 litros, se espalhou pelo oceano em decorrência de chuvas na região. A embarcação está carregada com 3.640 toneladas de óleo destilado e 294,8 mil toneladas de minério de ferro. Para efeito de comparação, a Marinha brasileira conseguiu recolher 5 mil toneladas de resíduos oleosos nas praias do Nordeste, em 2019.
A embarcação, da empresa sul-coreana Polaris Shipping, foi contratada pela mineradora Vale para levar os produtos até a cidade de Qingdao, na China. A tripulação saiu do terminal marítimo da Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão, quando, por volta das 21h30 da segunda, detectou a entrada de água em compartimentos de carga, depois que o navio tocou o fundo do mar.
Para se ter ideia da dimensão de um possível desastre ambiental, o navio, construído em 2016, mede 340 metros de comprimento, equivalente a três campos de futebol, tem 55 metros de largura e 21,5 metros somente de calado (profundidade dentro da água), com capacidade para 300 mil toneladas de material. Isso é o mesmo que 2.500 vagões de trens cheios de minério de ferro.
O professor do curso de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Fernando de Barros, afirma que é muito provável que a situação venha a desembocar em um problema ambiental, “porque o navio tem muito combustível e, afundando, vai gerar uma poluição grande no entorno prejudicando a vida aquática. Se afundar, vai vazar. Isso é inevitável, talvez eles consigam tirar o combustível, porque pelo menos minimiza o impacto”.
Barros explica que o óleo é sobrenadante, ou seja, fica sobre a água, impedindo a entrada de luz solar. “Consequentemente, isso gera impactos para a flora aquática, e também para os peixes, porque a água solar não entra e isso acaba prejudicando o desenvolvimento dos animais. E também acaba que outros animais, como pássaros, vão acabar bebendo esse material e vão morrer.”
Ele recomenda que o melhor a se fazer agora é tentar tirar o máximo possível de óleo da embarcação. Quanto ao minério de ferro, o impacto não é tão expressivo quanto o do óleo, explica o professor.
Caso o vazamento do material no mar em grandes proporções venha a se confirmar, o ocorrido pode configurar o terceiro crime ambiental envolvendo a mineradora Vale em menos de cinco anos, ao lado dos crimes de Brumadinho, em 2019, e Mariana, em 2015.
Em nota, a Marinha informou que “estão sendo coletados dados para o inquérito administrativo, no intuito de apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do incidente”.
Também por meio de nota, a Vale afirmou que enviou uma embarcação ao local para conter possíveis danos ambientais e solicitou à Petrobras navios Oil Spill Recovery Vessel (OSRV, ou navios de recuperação para vazamentos de óleo) para contenção de eventual vazamento.
A mineradora enviará boias oceânicas off shore, que podem servir preventivamente como barreiras de contenção adequadas para mar aberto, se necessário. A Vale informou que os 20 tripulantes foram resgatados e se encontram seguros.
Até a publicação desta reportagem, Polaris Shipping não respondeu às solicitações do Brasil de Fato.
Edição: Leandro Melito