A tomada das ruas pelas mulheres no dia 8 de Março tem aumentado ano a ano em todo o mundo. Esse movimento é uma resposta ao crescimento do conservadorismo político e das medidas econômicas neoliberais em vários países contra os direitos dos povos.
A avaliação é da vice-diretora do Instituto Tricontinental, Renata Porto Bugni, que participou, nesta segunda-feira (9), do BdF na Redação, ao lado de Miriam Nobre, integrante da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), para falar sobre feminismo e os atos realizados nesse domingo (8), Dia Internacional de Luta das Mulheres. Miriam Nobre fez um balanço positivo das manifestações pelo país, com destaque para o protagonismo das mulheres na luta social.
“Neste momento, todas nós estamos com o corpo cansado, mas o coração aquecido, porque o 8 de Março foi bastante potente. Para começar, a gente reuniu mulheres agricultoras, quilombolas, indígenas com mulheres urbanas e fizemos um piquenique agroecológico, denunciando as transnacionais. E fomos nos somando, mesmo debaixo de chuva [em São Paulo], realizamos uma grande manifestação com o tom de fora Bolsonaro", contou Nobre, que também falou sobre a representatividade da luta camponesa no Primeiro Encontro Nacional de Mulheres Sem Terra em Brasília.
“Foi um encontro massivo de mulheres dos assentamentos e da base do MST. Mulheres com uma história de luta riquíssima; senhoras e jovens e crianças com discussões muito profundas sobre avaliação de contextos político e econômico, e como esse contexto é a representação de um sistema que é capitalista, patriarcal e racista. E a nossa ideia foi debater formas de enfrentar esse sistema e afirmar a ideia de um feminismo camponês e popular, que está em diálogo com a reforma agrária e em combate ao desmonte da política ambiental do governo”, disse a representante da MMM.
Além do Brasil, a pauta de contraponto às políticas neoliberais e de retirada de direitos das sem-terra brasileiras também tem sido vista na Índia, em meio às medidas agressivas do primeiro ministro de extrema direita Narendra Modi. O tema é abordado e dissecado pelo do dossiê “Mulheres de Luta, Mulheres em Luta”, do Instituto Tricontinental, com a perspectiva do feminismo internacional anti-imperialista, anticapitalista e em defesa da vida na América Latina e, também, em países como a África do Sul e a própria Índia.
“A gente traz a análise de um caso da índia, onde as mulheres têm tomado um protagonismo muito importante nas vilas e aldeias, porque com o Modi no poder elas estão perdendo muitos empregos na área rural. Então elas trazem esse debate da importância da terra e de como se pode sobreviver sem ela. E esse protagonismo tem relação com essa luta internacionalista das mulheres feministas pelo mundo”, explica Bugni.
“Outro destaque que a gente traz no dossiê é que, no ano passado, o 8 de Março tinha sido a maior manifestação das últimas décadas no Chile. Isso demarca uma frente de atuação e protagonismo de atuação popular muito significante na América Latina, incluindo Brasil e também a Argentina", complementa.
14 de Março
O BdF na Redação também falou sobre as expectativas em torno das manifestações previstas para o dia 14 de março, data em que se completam dois anos de Marielle Franco. Para Miriam Nobre, além da memória e da cobrança por justiça no caso, os atos do domingo (14) devem abordar uma pauta ainda mais expansiva.
“O caso Marielle simboliza até que ponto eles chegaram. Se mataram uma vereadora, o que mais então eles não podem fazer? A memória da Marielle está entre nós, mas esse dia também serve para denunciarmos esse processo que ocorre no país, de milicianos no poder e do genocídio da população negra. É contra esse tipo de sociedade que o feminismo sempre se posicionou e vai se posicionar no dia 14”, afirma.
Edição: Douglas Matos