Violência

Dunker: psicanalista assiste e reage às imagens do cotidiano brasileiro em 2020

Um senador baleado, adolescente agredido na escola, jornalista ofendida pelo clã Bolsonaro. Vivemos a barbárie?

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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“No fundo, estamos negociando uma fronteira", afirma o psicanalista - Foto: Divulgação

Em 2020, a violência tem dominado o noticiário brasileiro. Discursiva, ou não, o argumento bélico tem sido imposto para a solução de embates políticos e sociais. As cenas, algumas brutais, chocam os desavisados.

Um senador é alvejado com tiros à luz do dia, em área descoberta, aos olhos de todos. Um adolescente espancado por policiais militares dentro de uma escola. Os fatos forçam a pergunta: Vivemos na barbárie?

Para compreender os sinais que são emitidos nessas imagens do cotidiano brasileiro, o Brasil de Fato foi buscar a resposta com o psicanalista Christian Dunker, autor do livro Reinvenção da intimidade: Políticas do sofrimento cotidiano.

“Barbárie vem de bárbaro. Bárbaro, para os gregos, eram aqueles povos balbuciavam, sem a mediação elementar, que reconhece no outro como falante da mesma língua. Portanto, não há um contrato básico de que podemos substituir a violência pela palavra, de que podemos ter leis e algum tipo de acordo com relação às expectativas de um e de outro", explica Dunker sobre o conceito de barbárie.

Para o psicanalista, não há dúvida de que vivemos uma “barbárie”, embora pontue que é uma “barbárie neoliberal”.

“No fundo, estamos negociando uma fronteira. Então, o que eu faço? Eu invado essa fronteira e espero sua reação. Aí, você reage e convoca seus exércitos. Eu posso recuar. Mas a pessoa que está testando limites o tempo todo, está também cansando o outro. Ela está assumindo a ofensiva, colocando o outro na defensiva, isso vai acostumando os lados da conversa. Isso é muito ruim, quando pensamos processos a longo prazo. Esse que está na defensiva vai se acostumando com a violência, com o mau trato, com o preconceito e vai naturalizando aquele modo de comportamento. Até o momento em que você não consegue mais reconhecer a fronteira”, finaliza Dunker.

Veja o vídeo completo, com as reações e opiniões do psicanalista:

 

Edição: Leandro Melito