Pouco conhecida pelo grande público até tempos atrás, a palavra "empoderamento" ganhou força no debate político até se tornar o termo mais buscado no dicionário Aurélio em 2016. Desde então, já teve seu significado esvaziado e afastado do conceito original, mas ainda é fundamental para a discussão do feminismo negro, pois debate mudanças nas relações de poder, de acordo com a arquiteta e urbanista Joice Berth.
Autora do livro "O que é empoderamento?", ela enfatiza o fato de que "o poder só existe de maneira justa quando é coletivo", ou seja, o empoderamento deve buscar mudanças nas estruturas das relações de poder. A palavra, criada pelo educador Paulo Freire a partir do termo inglês "empowerment", embute a ideia de minimizar os efeitos da opressão.
Em entrevista ao Brasil de fato, Joice questiona a "ideia liberal de meritocracia". Segundo ela, quando as conquistas são relacionadas a benefícios individuais, como promoções e aumentos salariais, não se trata de empoderamento, embora seja essa a ideia mais disseminada relacionada com o termo. "Se ele não é revertido para o grupo minoritário em que você está inserida, então você não está trabalhando exatamente o conceito de empoderamento", afirma.
Ao tratar sobre raça e classe dentro do movimento feminista, Joice resgata a antropóloga e ativista Lélia Gonzalez, que se dedicou a explicar o impacto da combinação de racismo e sexismo sobre as mulheres negras e afirmou que o feminismo não pode ser considerado de uma maneira única e universal. "O feminismo ainda é muito burguês, muito elitizado", completa.
Na semana em que o assassinato da vereadora Marielle Franco completa dois anos, a escritora também diz que seu exemplo "representa o contraponto do esvaziamento do conceito de empoderamento". Segundo a escritora, "se de fato nós tivéssemos alcançado algum empoderamento, isso não aconteceria ou aconteceria em menor escala".
Confira a entrevista:
Edição: Leandro Melito