Enquanto o coronavírus se alastra pelo mundo, na boca do presidente brasileiro o tema é tratado com chacota e desprezo. “Eu faço 65 anos daqui a quatro dias. Vai ter uma festinha tradicional aqui. Até porque eu faço aniversário dia 21 e minha esposa dia 22. São dois dias de festa aqui”, afirmou Jair Bolsonaro, fazendo troça com a epidemia que assusta o mundo.
No último domingo (15), o presidente já havia contrariado as orientações médicas, inclusive de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e participou das manifestações contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro deveria evitar o contato com a população, de acordo com especialistas, por carregar a suspeita de que esteja contaminado pelo coronavírus. Um novo exame foi feito nesta terça-feira (17) para confirmar, ou descartar, a possibilidade.
Em outros momentos, Bolsonaro afirmou que a epidemia tem sido tratada com “histeria” e “extremismo”. O presidente, aliado aos seus filhos e o submundo da internet que o segue, tem afirmado que a preocupação de especialistas e da imprensa com o coronavírus são parte de uma conspiração para derrubá-lo.
“Você tem um caos muito maior. Se a economia afundar, afunda o Brasil. E qual é o interesse dessas lideranças políticas que me criticam? Se afundar a economia, acaba meu governo”, explicou o presidente, que pediu para que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) reveja a decisão de paralisar o futebol e retome as partidas nos estádios com portões abertos à torcida.
Bolsonaro não está sozinho no governo, quando minimiza o potencial do vírus. "A cada epidemia de vírus originária na China, o mundo entra em crise econômica. Então, aquele país se recupera antes de todos os outros e se torna mais poderoso geopoliticamente. Rumo à hegemonia global antecipada por crises econômicas causadas por vírus" , afirma Ailton Benedito, secretário de Direitos Humanos da Procuradoria Geral da República
Se em nome da política, Bolsonaro minimiza os efeitos do coronavírus, outros representantes da extrema-direita pelo mundo usam a pandemia para alavancar propostas xenófobas.
"Uma das primeiras maneiras de frear a epidemia é evidentemente efetuar o controle das fronteiras, o que [o presidente] Emmanuel Macron se recusa a fazer por razões quase religiosas" , afirma Marie Le Pen, líder da extrema-direita francesa, possível candidata à eleição nacional em 2022.
Na Itália, onde o vírus se propaga de forma mais assustadora, Matteo Salvini, mais importante liderança da extrema-direita italiana, se pronunciou logo após o primeiro caso confirmado no país, pedindo ao governo local que fechasse as fronteiras. “Uma oração por ele [contaminado] e um pensamento para sua família. Talvez agora alguém tenha entendido que é necessário fechar, controlar, bloquear, blindar, proteger?”, perguntou.
Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orban, vaticinou. “Nossa experiência mostra que os estrangeiros trouxeram a doença e ela está se espalhando”. O líder do Brexit na Inglaterra, Nigel Farage, foi ao Twitter se pronunciar, também apelando à xenofobia.
"Numa crise o conceito de solidariedade, proposto pela União Europeia e os globalistas, não conta para nada. Somos todos nacionalistas agora" , finalizou.
Após minimizar as possibilidades de avanço do coronavírus, Javier Ortega Smith e Santiago Abascal, líderes do Vox, partido de extrema-direita da Espanha, convocaram manifestações populares em apoio à legenda. Uma semana após os atos, a sigla confirmou que ambos foram contaminados pelo vírus.
Edição: Leandro Melito