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Médicos de quatro países relatam medidas tomadas para combater o novo coronavírus

Doença chegou a 154 países e registra 7.905 mortes em todo o planeta. Especialistas recomendam isolamento imediato

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Apesar de ainda não haver transmissão comunitária em muitos países, quarentena e fechamento de fronteiras já vêm sendo decretadas por governos - Martin Bernetti / AFP

Quarentena social, isolamento domiciliar, negócios fechados, conflitos entre patrões e trabalhadores, restrição nos transportes públicos. São várias as consequências da chegada do novo coronavírus nos 154 países do mundo que já enfrentam a pandemia. 

Em meio a esse cenário, o Brasil de Fato reuniu relatos de profissionais de saúde e lideranças comunitárias de quatro nações sobre a situação de seus países. Quais medidas e como os governos da Índia, Chile, Venezuela e Itália vêm enfrentando a doença que já matou 7.905 pessoas em todo o planeta? 

Índia

A índia tem 138 casos de coronavírus confirmados. O sistema de saúde público não é universal, por isso a maior preocupação é como o governo vai garantir que todos os cidadãos tenham acesso a boas condições de tratamento nos hospitais privados.

“A prestação de contas do sistema privado para o sistema público hoje é mínima, considerada a complexidade da situação. como, nesse momento crítico, o governo será capaz de garantir essa prestação de contas e garantir que o sistema privado se responsabilize? os pacientes que chegam a esses hospitais são, em geral, pobres. como o governo vai garantir que eles não sejam explorados, e que os casos diagnosticados cheguem à base de dados pública? o governo precisará propor uma forma de lidar com esses sistema” , pondera VR Raman, mestre em Saúde Pública.

Chile

Na segunda feira (16), o presidente Sebastián Piñera anunciou o fechamento de todas as fronteiras no país (terrestres, marítimas e áreas). Já chegam a 201 o número de casos da doença no país, segundo a Universidade de Medicina Johns Hopkins. Piñera informou também que cerimônias, eventos ou atos públicos serão permitidos apenas se estritamente necessários e com um número máximo de 50 pessoas. 

“Se no dia de hoje, não formos muito enfáticos nestas medidas. no dia de amanhã, vamos pensar que elas chegaram tarde, e isso aconteceu em todos os países da europa. nós temos uma oportunidade muito relevante, esperamos que o governo se abra a ter um conselho (politicamente) transversal (para enfrentar a situação), para que sejamos muito mais ativos, porque isso, evidentemente, terá um custo relevante para os nossos cidadãos. isto requer não seguir funcionando de forma normal, e eu, no decorrer deste dia, continuo vendo diferentes aglomerações, pessoas viajando de metrô, e isso (a pandemia nos obriga a que não seja assim, que mudemos a forma como o chile funciona”, destaca Izkia Siches, presidenta do Colégio Médico do Chile.

“Nós pedimos ao presidente que avance no congelamento de preços de forma rigorosa. Todas essas são medidas complexas, por isso, também pedimos aos diferentes partidos políticos que apoiem o governo quando tome algumas dessas iniciativas. Nenhuma delas é cômoda para nenhum governo, não há um manual para enfrentar o coronavírus, e nesse sentido precisamos de apoio, nós acreditamos que não é possível aceitar a especulação (de preços) ou o armazenamento (de produtos), e isso obriga a tomar medidas (do governo) porque a cidadania não está preparada para tomar ações deste tipo”, finaliza.

Venezuela

No país do presidente Nicolás Maduro, o covid-19 ainda está em fase de crescimento e expansão e todos os 36 casos confirmados foram trazidos de outros países – principalmente da Colômbia, na região de Cúcuta, e de países europeus. 

Apesar de não existir a transmissão comunitária, desde segunda, após anúncio de Maduro, o povo já está em quarentena social e as ruas de Caracas vazias. Outros estados que também adotam medidas de isolamento coletivo são La Guaira, Miranda, Cojedes, Zulia, Apure, Táchira e Distrito Capital.

“Na Venezuela  se optou pela técnica da quarentena e ela está se cumprindo em um nível de 90, 95% da população, onde as pessoas estão ficando em suas casas. foi entendido a necessidade de evitar o contágio e de alguma forma conter essa pandemia. nós temos 33 casos identificados, inclusive com sua procedência. o colégio de médicos entendeu que a quarentena social indicada pelo executivo nacional e pelos diferentes entes de governo é necessária e vem seguindo as orientações da organização mundial da saúde”, afirma Fernando Bianco,  especialista em Saúde Pública e membro do Colégio de Médicos do Distrito Metropolitano de Caracas.

Itália

No ultimo balanço divulgado pelo governo italiano já haviam sido registradas 2.503 mortes em decorrência da pandemia de coronavírus. Já o número de casos confirmados da covid-19 está, atualmente, em 31 506. Decreto da quarentena no País, que mantém 60 milhões de italianos em prisão domiciliar, para conter a propagação do vírus inclui até mesmo funerais. 

“O governo italiano assinou vários decretos numa semana, como três ou quatro decretos, apontando que muitos negócios não essenciais têm que ser fechados. O problema é que enquanto as lojas pequenas estão fechadas, muitas grandes fábricas ainda estão abertas e os trabalhadores são obrigados a ir trabalhar todas as manhãs em locais onde não há garantia da sua saúde. por exemplo, temos fábricas como a Fiat, a maior produtora de automóveis da Itália. Só hoje eles decidiram fechar por duas semanas para garantir condições mínimas de saúde para os seus trabalhadores. Mas há outras fábricas que ainda estão abertas. Há uma luta neste momento entre os trabalhadores e o governo. O governo está tentando manter os negócios abertos porque de outra forma outros concorrentes internacionais poderiam lucrar com a situação, especialmente o reino unido e os EUA que estão agindo de uma maneira muito diferente os trabalhadores estão tentando impor a sua primeira necessidade, a necessidade de salvar sua própria vida",  revela.

*Colaboraram Daniel Giovanaz e Victor Farinelli.

Edição: Rodrigo Chagas