Há pouco mais de 200 anos, um homem chamado Edward Jenner usou sua observação, criatividade e muita ciência para inventar a primeira vacina. Foi o método científico que levou o médico inglês de feridas com pus em vacas à erradicação da varíola em 1980. Agora, em 2020, doenças que já tinham desaparecido voltaram a estar presentes, como é o caso do sarampo que causou a primeira morte em mais de 20 anos no Brasil. Então fica um questionamento: por que as pessoas estão parando de se vacinar? E mais, por que estamos acreditando cada vez menos na ciência?
Semanas atrás o então presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, era chamado de mentiroso por afirmar que havia aumentando o desmatamento na Amazônia e por mais que ele fosse um dos mais renomados físicos do país com anos de experiência e provas na mão, suas palavras pareciam “entrar por um ouvido e sair por outro”. Talvez cutucamos um vespeiro e dali saiu pessoas que não acreditam mais na ciência, gente que fala que a terra é plana, que não existe desmatamento, que aquecimento global é uma mentira, que vacinas não funcionam. Apesar de muita gente achar que se tratam de ignorantes, não se enganem, não são um bando de lunáticos com chapéus de alumínio na cabeça, mas sim pessoas muito mal intencionadas que usam a mentira como método.
Ao espalhar essas notícias falsas, por exemplo, que vacinas causam autismo, eles não estão espalhando apenas uma mentira, eles estão espalhando a dúvida contra a ciência. Uma dúvida que faz as pessoas negarem verdades mais que estabelecidas do mundo moderno, como é o caso do aquecimento global. Mas a dúvida não devia ser dos lunáticos, a dúvida é dos cientistas e das pessoas que pensam, porque só a ciência tem a capacidade de se questionar a todo instante “será que isso está errado?” e depois de muito pensar e errar se corrigir.
Quando a ciência não é mais de confiança e as verdades agora são todas duvidosas é possível acreditar em qualquer coisa e fazer qualquer coisa. Se perdemos o método científico, deixamos que as opiniões guiem nossos rumos até que cairemos abismo abaixo. Assim, a mentira ganha raízes e um ministro da educação falar que existem plantações de maconha nas universidades se torna comum e normal, mesmo sem provas e sem argumentos.
A ciência não é neutra e sem lados, tampouco é formada por “globalistas” mal intencionados, ela tem um lado muito claro que é o lado da verdade, uma verdade produzida por homens e mulheres que deve a todo instante ser questionada e melhorada. Não é época de apenas agradecer a quem fala que a Terra é redonda, mas de espalhar aos quatro cantos que existem verdades, que existe um lado certo e que não há futuro sem ciência.
*Samuel Átila é integrante da Rede de Médicos e Médicas Populares no Ceará.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena