O desafio é inédito: em poucas semanas centenas de milhares de crianças e adolescentes em todo o país passaram a ficar em casa, por conta da pandemia do coronavírus. O fechamento de escolas e creches faz parte da estratégia que mais obtém sucesso para conter a propagação do vírus: o isolamento social.
De acordo com a Unesco, as aulas presenciais já foram suspensas para metade dos estudantes do mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde distribuiu aos estados um plano de ação de quarentena que traz a possibilidade de que as escolas sigam fechadas por pelo menos mais um mês.
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Diante desse cenário, uma nova realidade se coloca para as famílias com filhos. A pedagoga Viviane de Paula, educadora social e contadora de histórias, afirma que é possível se adequar à nova realidade sem grandes traumas, mas que é necessário um comprometimento com a mudança e muito diálogo com os mais jovens.
“É um desafio muito grande, mas nós conseguimos sim passar por isso. O ideal é manter a rotina, explicar o que está acontecendo e usar os recursos que a gente já usa a nosso favor e a favor da criança com criatividade. Os recursos tecnológicos de vídeo e voz podem solucionar as questões de ausência. No período de isolamento a criança não consegue estar com os amigos, por exemplo. A gente sugere que seja usada a tecnologia para manter o contato com amigos, avós, colegas, tios", explica.
De acordo com a pedagoga, a atenção deve estar voltada também para a saúde mental da família. A ansiedade pode criar problemas maiores se atingir tanto filhos quanto pais. “Para os pais que estão preocupados, eu sugiro que mantenham a calma. A ansiedade é ruim para as crianças e para os pais", afirma.
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Viviane considera que, mesmo frente a uma situação que traz temores e medos à tona, o momento é propício para mudanças na vida doméstica. Segundo ela, é a hora de melhorar a interação, estimular a participação das crianças no dia a dia em casa de maneira lúdica e conhecer melhor os pequenos.
“Ao mesmo tempo em que eles estão participando, eles não estão entediados. Nem os pais ficam entediados, porque eles começam a descobrir os filhos, que [normalmente] estão o dia todo na escola. O adulto começa a perceber coisas nos filhos que não são percebidas no dia a dia. Que esse isolamento sirva para estimular esse convívio que é difícil nos dias de hoje. Nesse período é preciso procurar maneiras de sanar a ansiedade de ambos", ressalta.
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Apesar de defender que a rotina é um elemento importante para que a nova realidade seja digerida, Viviane aponta que o momento é propício também para inserir as crianças nas definições sobre as atividades cotidianas.
“É muito importante que se mantenha a rotina e isso é bom até para nós, para que cada um não perca de vista como é o seu dia a dia. No entanto, tudo pode ser conversado com a criança. Nós, que estamos trabalhando em casa, também temos horários meio diferenciados. Podemos montar uma rotina em conjunto. Ainda que se mantenha uma rotina, é muito importante conversar com a criança e explicar que não vai ser a mesma coisa. A própria criança pode sugerir, encontrar meios para colaborar. A rotina é ótima, mas não pode ser engessada num período de isolamento. É preciso tomar cuidado para não aumentar a tensão em um período que já é tenso", destaca.
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A pedagoga ressalta também que o isolamento social certamente trará novas descobertas para as famílias. Ela reafirma que, muitas vezes, as respostas aos desafios são dadas pelas próprias crianças.
“Até para nós é tudo muito difícil. É bom agora que os pais olhem como está a relação, como está a rotina, como as atividades são recebidas pelas crianças. Para algumas, jogos teatrais podem ser uma ótima recomendação. Mas há crianças mais introspectivas, por exemplo, que vão demandar outras coisas. Cada família vai buscar alternativas dentro das suas observações sobre como a criança se relaciona com o outro. Há uma descoberta nova", diz.
Viviane considera ainda que o assunto da pandemia deve ser tratado com sinceridade, para que os jovens saibam como se posicionar, criem argumentos e maneiras para refletir, questionar e se posicionar com base no conhecimento.
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“A gente não pode jogar o peso do que está acontecendo nas crianças. Nós somos conscientes do que está acontecendo e de como o país está mudando com isso. Eu acredito que é um ótimo momento, por exemplo, para introduzir a ciência às crianças. De como a ciência e os conceitos científicos são importantes. São atividades que as crianças já têm na escola e que agora os pais podem trocar com elas. É uma forma saudável e importante para, em um momento desses, ter um pouco mais de conhecimento de como a ciência é importante. É interessante pensarmos nisso para que as crianças não cheguem à vida adulta com um pensamento alienado. Crianças que aprendem corretamente têm um posicionamento muito melhor no decorrer na vida. A transformação é muito maior", conclui.
Edição: Leandro Melito