O surgimento e a rápida propagação do novo coronavírus pegou o mundo e o Brasil de surpresa. Após um mês da chegada da primeira pessoa ser infectada no país, cresce a preocupação com a assistência às milhares de famílias que vivem em condições precárias nas cidades.
Com o aumento exponencial e a aproximação do contágio na população empobrecida, o prenúncio é de grande tragédia, caso medidas efetivas não forem tomadas e com urgência.
Quase 10% da população brasileira vive em habitações precárias. O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou 6.329 favelas espalhadas em 323 municípios brasileiros. São nas favelas que vivem 13,5 milhões de brasileiros na extrema pobreza e que passam o mês com menos de R$ 145.
Na região metropolitana de São Paulo, 2 milhões de pessoas, conforme também o IBGE, vivem em 3 mil favelas ou ocupações. Em outras capitais, a porcentagem é até maior e chega a ultrapassar os 20%.
O necessário isolamento social para conter a pandemia e a aprovação da renda emergencial de R$ 600 por três meses não trazem segurança aos moradores das favelas. Com várias pessoas repartindo apertados cômodos e com moradias adensadas, o coronavírus encontra lá ambientes propícios para se alastrar. ,
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Para essa população ao medo do vírus soma-se o temor da fome. Os desafios são como escapar da doença e como conseguir a subsistência da família. As crianças têm na merenda escolar a sua principal refeição.
Se a renda emergencial andar a passos de tartaruga para chegar, a ameaça de fome será real nesses lares. E se outras medidas efetivas não forem tomadas e com urgência, o prenúncio é trágico.
Nesta frente de batalha, as populações mais vulneráveis ganharam um importante aliado. Promotores do Ministério Público de São Paulo acabam de solicitar à Prefeitura plano de contingência emergencial para tentar frear o coronavírus nas favelas.
No pedido ao prefeito Bruno Covas (PSDB), os promotores reforçam que as habitações são precárias e não têm infraestrutura básica como rede de água e de coleta de esgoto.
A gravidade da situação está trazendo à tona as desigualdades sociais do país, a importância do fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde) e a revogação da Emenda Constitucional 95 que congelou verba da saúde até 2036.
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Essas questões sempre foram solenemente ignoradas pela elite e por grande parte da mídia. Essas são as tarefas que se impõem. Num futuro não muito distante, será difícil esconder a imensa desigualdade no Brasil.
Apesar do ex-capitão afirmar com ar de deboche que “brasileiro pula esgoto e merece ser estudado por não acontecer nada”, para esses milhares de brasileiros a dura realidade precisa com urgência ser transformada.
O tempo e nossa luta falarão mais alto.
*Juliana Cardoso (PT), é vereadora, vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, Adolescente e Juventude e membro das Comissões de Saúde e de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo.
Edição: Rodrigo Chagas