A pandemia do coronavírus tem causado uma verdadeira tragédia na Espanha. Até a tarde dessa quinta-feira (2), o país registrava mais de 110 mil casos de pessoas com covid-19 e um total de 10 mil mortes. O nível de letalidade da doença no país é de 9,1%.
Já são 26,7 mil pessoas curadas, um percentual de 24,3% do total de casos. Mas esse número não alivia a dor pelas milhares de perdas, que crescem em um ritmo de centenas a cada dia.
Em meio a esse cenário, alguns brasileiros que vivem na Espanha tentam sobreviver ao que está acontecendo no país, buscando se equilibrar entre a precaução e a preocupação. É o caso da jornalista Bruna Angrisani, que mora em Barcelona. Em conversa com o Brasil de Fato, ela conta como é o clima entre os espanhóis e também pede que os brasileiros levem a pandemia a sério.
“As pessoas estão com muito medo, naturalmente, porque as previsões não são nada boas para as próximas semanas. Se estima que nas próximas duas ou três semanas a gente vai alcançar o pico dessa epidemia aqui, na Espanha. Então, realmente, não é brincadeira, não é história de uma gripezinha, realmente é sério”, considera.
Bruna também conta como as medidas restritivas adotadas pelo governo espanhol para impor o isolamento social afetam a vida da população. Segundo especialistas, essas medidas são necessárias para conter a propagação do vírus, embora causem uma mudança importante no cotidiano das pessoas. O relato da jornalista permite comparar o que se vive na Espanha com as medidas que estão sendo aplicadas no Brasil.
“As pessoas só podem sair se elas levam consigo um certificado, que é um certificado de autorresponsabilidade, você se autorresponsabiliza por estar indo trabalhar. Existem três opções: ou você está indo trabalhar, ou está indo buscar atenção sanitária, ou indo comprar alimentos no supermercado. São as únicas alternativas que têm pra você sair na rua. E, se a polícia te pegar, você tá sujeito a pagar uma multa, que é de cerca de até 6 mil euros”, explica a brasileira.
Além de jornalista, Bruna Angrisani trabalha na administração de uma clínica veterinária em Barcelona junto com sua esposa, a veterinária e também brasileira Mayra Poitena. Na semana passada, elas doaram o único respirador artificial que possuíam ao sistema público de saúde do país, para que fosse usado para o tratamento de pacientes com covid-19.
Medicina
Por sua atividade profissional, Angrisani mantém contato com pessoas do mundo da saúde, como a médica Susan Judas, que está na linha de frente do combate à pandemia em Barcelona. A doutora também conversou com a nossa reportagem e disse que o corpo médico na Espanha tem enfrentado a situação com “resignação e muito cansaço”.
“Todos estão tendo que trabalhar mais horas do que o normal, todos os dias, e muitas vezes enfrentando a terrível situação de querer e não poder oferecer a todos os pacientes a solução que gostaríamos, ou que poderíamos dar em outras circunstâncias. Sei que, em algum momento, a conta desse estresse psicológico vai chegar, para muitos companheiros”, relata a médica.
Outra recomendação importante da doutora Judas é a respeito do que ela considera um dos maiores erros cometidos pela Espanha ao lidar com a epidemia no começo, que foi o de não separar os idosos das crianças e dos adolescentes.
“Embora sejam raros os casos de pessoas jovens que desenvolvem a doença, o que pode acontecer é elas serem portadoras do vírus sem manifestar os sintomas, e acabam sendo vetores para outras pessoas que, sim, estão no grupo de risco”, explica a doutora.
Bruna Angrisani também conta que, além da saúde, outro tema que preocupa muito os espanhóis diz respeito às consequências econômicas desta crise. Para enfrentar essa situação, algumas pessoas estão se organizando em iniciativas comunitárias para enfrentar os problemas.
“Realmente, está todo mundo fazendo um pouco de autogestão e tentando amenizar a questão econômica. É bonito de ver que muita gente está tomando para si a responsabilidade, tentando fazer comunidades virtuais e amenizar esse impacto socioeconômico”, avalia.
Entre as iniciativas mencionadas pela brasileira estão a formação de grupos para cuidar de crianças e idosos, além de mutirões para a compra de alimentos, para que nem todos precisem sair às compras. Também há grupos que buscam formas de ajudar os trabalhadores autônomos, mais afetados economicamente pela crise. Outra iniciativa importante é a fabricação caseira de máscaras, com distribuição gratuita. E há também os grupos que se organizam até para comprar flores e levar periodicamente aos hospitais, para homenagear os médicos e as enfermeiras que enfrentam a pandemia.
Edição: Vivian Fernandes