Os membros do Grupo de Puebla — articulação integrada por líderes progressistas da América Latina, que reúne ex-presidentes e parlamentares, entre outros integrantes da vida política da região — realizaram, na última sexta-feira (10), uma reunião extraoficial para debater as medidas necessárias para combater o avanço da crise desencadeada pelo novo coronavírus na região.
Durante o encontro, realizado virtualmente, os participantes criticaram os governos de direita da América Latina pela falta de respostas adequadas à emergência sanitária. As críticas foram dirigidas principalmente aos governos de Jair Bolsonaro, no Brasil; de Sebastian Piñera, no Chile; e de Lenín Moreno, no Equador. Os três países apresentam o maior número de casos na região.
“Os apelos do presidente Bolsonaro para quebrar essas medidas de segurança sanitária equivalem a um crime contra a humanidade. Por isso, expressamos nossa solidariedade às autoridades, governos estaduais e sociedade civil no Brasil, que tiveram que agir sob forte pressão do governo federal para colocar a saúde e a vida de sua população como uma prioridade fundamental", expressaram na declaração final do encontro.
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A abertura da reunião foi realizada na sexta-feira (10) pelo presidente argentino Alberto Fernández. “Se tem algo positivo que podemos tirar de tudo isso é a necessidade de nos entendermos, porque ninguém se salva sozinho”, afirmou, em referência a palavras recentes do Papa Francisco.
As medidas adotadas pela Argentina — entre elas, a quarentena obrigatória em todo o país, o pagamento parcial do salário dos trabalhadores e aumento do orçamento para saúde e políticas sociais — foram citadas como um modelo de sucesso na região.
Participaram da reunião on-line de 10 de abril diversos ex-presidentes da América do Sul, entre eles, Dilma Rousseff e Lula (Brasil), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador). Durante sua exposição na reunião, Dilma Rousseff afirmou que a crise atual demanda uma atuação fortalecida do Estado.
“Só o Estado está em condições de enfrentar a pandemia. As dívidas dos países latino-americanos devem ser perdoadas, para construir as condições necessárias para criar, reservar e comprar suprimentos de saúde”, afirmou a ex-presidenta.
As críticas do Grupo de Puebla foram dirigidas também à ineficiência da Organização dos Estados Americanos (OEA), presidida por Luis Almagro, e às sanções impostas por Donald Trump a Cuba e Venezuela.
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Propostas
A declaração oficial da articulação indica algumas ações necessárias para conter a atual epidemia de covid-19. Seus integrantes reforçaram a proposta apresentada por Alberto Fernández à cúpula do G-20 de criação de um Fundo Mundial de Emergência Humanitária e do Fundo de Solidariedade regional, que colete contribuições públicas.
O grupo demanda o reconhecimento da insustentabilidade da dívida dos países latino-americanos diante da necessidade de investimentos públicos neste momento de crise sanitária.
“Entendemos que países e povos não podem decidir entre saúde e economia. Esse é um falso dilema que é superado graças à dimensão que os articula: a política. A solução para a crise da covid-19 é política”, reforçam.
O documento-síntese do encontro, composto por 14 pontos, também enfatiza a necessidade de retomar a integração latino-americana e caribenha e a cooperação internacional para enfrentar a pandemia, além de reconhecer a insustentabilidade da dívida dos países latino-americanos neste contexto de aumento dos investimentos para proteger a população e recuperar a economia.
“Esta crise não tem outra saída que a integração latino-americana e caribenha e a cooperação em nível mundial. E essa integração e cooperação devem estar apoiadas nos ombros da noção de conhecimento e solidariedade”, arremata.
Edição: Luiza Mançano