A campanha de solidariedade Leite Fraterno começou, nesta quarta-feira (15), a distribuição de leite para a população em situação de vulnerabilidade social na Paraíba. Foram doados quatro mil litros de leite para moradores de onze ocupações, cerca de 500 famílias da região metropolitana de João Pessoa e Campina Grande.
O plano operacional é distribuir, também, para Bayeux, Santa Rita e Conde. O público alvo são: população de rua, catadores de material reciclável, profissionais do sexo, ambulantes, índios da Venezuela e moradores de comunidades e ocupações. A iniciativa é uma parceria entre Ministério Público Federal (MPF), pequenos produtores da bacia leiteira da região do Cariri e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
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Os voluntários arrecadam doações em dinheiro para comprar o leite produzido pelos agricultores familiares. Cada caminhão tem capacidade de transportar 4 mil litros de leite que são comprados a R$ 3,00 o litro, totalizando R$ 12 mil por cada carga.
A coordenadora do MST na Paraíba, Dilei Schiochet, explica que, além de alimentar as famílias em vulnerabilidade na região metropolitana, a ação também tem o objetivo de ajudar os agricultores a manter suas pequenas propriedades e assentamentos, destacando que a agricultura familiar produz cerca de 70% de toda a alimentação que vai à mesa no Brasil.
“Isto servirá para saciar a fome daqueles que precisam das periferias da cidade. Mas, tenhamos a certeza de que a pandemia está muito mais visível porque nós não democratizamos a terra no país; se tivéssemos feito a reforma agrária, as nossas cidades não estariam inchadas, sem emprego e sem alimento. Então a reforma agrária ainda é, e sempre será, a grande alternativa contra a concentração e os aglomerados de pessoas nas periferias da cidade”, destaca Schiochet.
Ela comemora o engajamento e a união de diversos movimentos e instituições nas ações de solidariedade para amenizar os efeitos da crise provocada pela pandemia do coronavírus no Brasil. "São pessoas que estão em espaços institucionais, que ocupam espaços importantes, mas que tem essa sensibilidade humana de defender a vida e de se colocar de corpo e alma na defesa dos pobres, periferias, prostitutas, atingidos por barragens, sem terra, sem nada, dos sem pátria”, enfatiza.
Dentre as famílias que receberam o alimento nesta quarta está a de Edvânia da Silva, de 42 anos. Ela e seus seis filhos vivem na comunidade do Papelão, no bairro do Varadouro, e expressa gratidão pela entrega do leite: “Foi uma benção, graças a Deus, porque aqui tem muita criança e tava precisando, que Deus abençoe”.
Nas comunidades, moradores também aderiram à iniciativa solidária. Foi o caso de Josimary Rodrigues, da comunidade Ricardo Brindeiro, que ajudou a entregar o leite. “É muita gente que precisa, a comunidade recebeu cesta básica semana passada, e eu tô ajudando a entregar o leite porque tem muita criança aqui”, conta.
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Unidade na solidariedade
A atividade teve participação de militantes dos movimentos sociais como Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD), Marcha Mundial de Mulheres, Consulta Popular, Levante Popular da Juventude e Jornal Brasil de Fato, que foram cedinho de manhã ajudar a distribuir o leite nas comunidades. Também apoiam a ação Justiça Federal na Paraíba (JFPB), Ministério Público do Trabalho (MPT-PRT13), Ministério Público da Paraíba (MPPB), Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública do Estado da Paraíba (DPE-PB) e Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Paraíba (OAB/PB).
"O grande objetivo desta campanha é garantir que as pessoas mais pobres e que não têm acesso aos direitos sociais básicos consigam se manter em quarentena porque, desse modo, podemos garantir o combate a esse vírus que tanto atormenta a vida da população brasileira", comenta Luana Caroline, militante do MTD que participou da ação.
Marcos Freitas, coordenador do Brasil de Fato Paraíba, fala da importância de participar de ações de solidariedade: “O jornal Brasil de Fato tem um lado na sociedade, que é o lado popular, o lado do povo. Então, se é uma ação dos movimentos sociais para garantir que o povo tenha o direito a ficar em casa na quarentena, a gente estará lá somando nesta atividade porque também somos movimento.”
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Produtores em campanha
Hemetério Duarte (Seu Tetéto) é um dos produtores envolvidos na campanha. “Foi uma boa para a gente porque os produtores, hoje, estão sem ter onde colocar o leite por causa do coronavírus e ficaram sem ter onde vender o produto. Chegou mesmo na hora certa essa campanha.”
O Procurador da República José Godoy reitera a importância das doações e comemora o engajamento solidário das famílias produtoras. “É importante destacar que, apesar de ter sido arrecadado pouco mais de R$ 8 mil, mesmo assim, os agricultores aceitaram mandar o primeiro caminhão. A campanha continua arrecadando recursos e brevemente completará R$ 12, que é o valor do caminhão que está sendo distribuído hoje. Portanto, é imprescindível que as pessoas continuem a colaborar com a campanha”, destaca Godoy.
Como participar
Veja mais fotos da distribuição do leite:
Fonte: BdF Paraíba
Edição: Rodrigo Chagas e Heloisa de Sousa