Empossado na manhã desta sexta-feira (17) como novo ministro da Saúde, Nelson Teich, oncologista e empresário do ramo da Medicina, defendeu uma atuação conjunta entre a Saúde e outros ministérios para combater o coronavírus no país, além da abertura de espaço para a iniciativa privada. O médico foi escolhido por Jair Bolsonaro (sem partido) para substituir Henrique Mandetta, demitido nessa quinta (16), após impasses relacionados ao isolamento social contra a covid-19.
“Pessoas do empresariado querem ajudar. A ideia é trazermos todo mundo junto, em um grande guarda-chuva, um grande time, com planejamento, para que consigamos levar o Brasil para uma situação melhor tanto na saúde, quanto na economia”, declarou Teich durante a cerimônia de posse.
O oncologista fundou o grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI), no qual era sócio de Denizar Vianna, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, pasta vinculada ao Ministério da Saúde. No total, Teich é sócio em dez empresas.
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Com um pronunciamento balanceado, o novo ministro reforçou a máxima defendida por Bolsonaro de que economia e saúde devem estar no mesmo patamar. “Se tivermos mais desemprego de pessoas que vão perder o plano de saúde, isso vai impactar no SUS [Sistema Único de Saúde]”, disse em referência a um possível impacto da crise econômica no sistema privado de saúde.
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Além de maior integração entre os ministérios contra o coronavírus, Teich defendeu, ainda, parceria entre os estados e divulgação de informações mais precisas sobre a doença.
“Hoje recebo certamente o maior desafio da minha vida profissional. Isso é inegável. Ter a oportunidade de compor o governo federal em um momento tão difícil pra sociedade, pro mundo, e ajudar as pessoas desse país é uma oportunidade única”, afirmou o médico e empresário.
Discurso equilibrado
Em um primeiro momento, o novo ministro declarou que sua prioridade é a saúde da população. “O foco que temos aqui é nas pessoas. Por mais que se fale em saúde, em economia, não importa o que se fale, o final é sempre gente. É o que viemos fazer aqui, trazer uma vida melhor para a sociedade e para as pessoas do Brasil”, disse.
Entretanto, em seguida, problematizou possíveis entraves causados pelo isolamento social e ações prioritárias relacionadas à covid-19 na área da Saúde.
“A covid está atraindo todas as atenções, mas existem outros problemas que não podemos deixar de lado. Tem que acompanhar com a mesma intensidade, mesmo que não se fale tanto deles. Se tem menos acesso, menos disponibilidade de serviços diagnósticos, por exemplo, será que não vai prejudicar diagnósticos de pessoas com câncer? Quando reduz atividades de serviços, o que vai acontecer quando a pessoa fica em casa com medo de ir ao pronto-socorro e infarta?”, questionou o novo ministro.
Teich reconheceu ainda a atuação do ex-ministro da pasta durante a pandemia. “Agradeço tudo que foi feito na gestão anterior. Vamos buscar agregar ao que tem sido feito”.
Exoneração
Demitido na quinta (16), Luiz Herique Mandetta abriu a cerimônia de posse de seu substituto, cumprimentando e agradecendo a todos os ministros presentes.
Ele também elencou alguns feitos de sua gestão, como a parceria com o laboratório DASA, para a produção de milhões de testes que devem ser distribuídos nos próximos meses, e, em tom amigável, mencionou aspectos econômicos da crise.
“O século 21 vai ser dividido entre antes e depois do coronavírus. Todas as economias do mundo vão sofrer, a nossa vai sofrer. Muito nos preocupa o pós-covid. A economia será um grande desafio”, disse.
Mandetta agradeceu Bolsonaro e disse ter sido uma honra trabalhar sob a liderança do capitão reformado e se colocou à disposição da Presidência.
“Sabemos que fizemos o trabalho que deveríamos ter feito e continuamos à disposição do país com a vontade que tenhamos dias melhores”, sublinhou.
“Hoje é dia de alegria”
Jair Bolsonaro, que se pronunciou após Nelson Teich, abriu seu discurso sorrindo: “Hoje é dia de alegria. Vamos unir agradecimentos e cumprimentos”.
Em seguida, o presidente comentou a exoneração de Mandetta, minimizando os desgastes dos últimos dias.
“Em um time, de vez em quando, alguns jogadores são substituídos. Por vezes, por cansaço. Por vezes, naquele jogo ou a partir daquele momento, é preciso modificar o placar. Não há demérito para ninguém nesse momento. Todos torcem, nesse momento, para o time chamado Brasil”.
Bolsonaro declarou ainda que tem certeza que Mandetta deixa o Ministério com a “consciência tranquila”.
“Por que substituí-lo? A visão minha é diferente da do ministro que está focado em seu ministério. A minha visão tem que ser mais ampla. Os riscos maiores, logicamente, são sob minha responsabilidade. Tenho dever de decidir. Não posso me omitir. Tenho que buscar aquilo que, segundo o povo que votou em mim, deve ser feito”, afirmou, acrescentando que “o efeito colateral do combate ao vírus não pode ser mais danoso que o próprio remédio”.
Novamente, o presidente defendeu a reabertura do comércio em nome da economia, mesmo com o número crescente de vítimas da covid-19. De acordo com informações divulgadas pelas secretarias estaduais de Saúde na manhã desta sexta-feira (17), já são 30.961 casos confirmados do novo coronavírus no Brasil, com 1.956 mortes.
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“Essa briga de abrir o comércio é um risco que eu corro. Se começar a agravar [a pandemia], vai cair no meu colo. O que eu acredito é que tem que abrir”, reforçou, dando um conselho a Teich: “Junte eu e o Mandetta e divida por dois. Pode ter certeza que você chegará naquilo que interessa para todos nós. Não queremos vencer a pandemia e daí chamar o doutor Paulo Guedes para solucionar as consequências de um povo sem salário, sem emprego e quase sem perspectiva”.
Edição: Camila Maciel