Fortaleza é a única capital que figura no ranking dos 30 municípios mais vulneráveis ao novo coronavírus no Brasil. A informação é de um estudo divulgado pela Fundação Perseu Abramo e conduzido pelo geógrafo e cientista de dados Ronnie Aldrin Silva. A pesquisa considerou 18 indicadores agrupados nas dimensões da densidade demográfica, faixa etária, infraestrutura sanitária e elétrica, mercado de trabalho e estrutura de saúde.
Segundo o estudo, além da capital apenas quatro cidades com população acima de 500 mil habitantes no Ceará também figuram entre as mais vulneráveis: Granja, Senador Pompeu e Quixadá. Para Silva, a combinação de população adensada e mercado de trabalho inconsistente é a mais desastrosa para a pandemia, e estes são os piores índices da cidade de Fortaleza.
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Segundo o economista Reginaldo Aguiar, superintendente regional do Departamento Intersindical de Estatística Estudos Socioeconômicos (Dieese), no Ceará, “onde você tem uma densidade populacional maior, você tem uma maior proliferação do vírus, outro fator importante que determina essas infecções é, exatamente, a concentração de renda. Quando você puxa isso para Fortaleza, o bairro onde tem mais casos de contaminação do coronavírus é o Meireles, e o que tem mais mortes é a Barra do Ceará”, explica. A taxa de mortalidade da covid-19 na Barra do Ceará e no Meireles são, respectivamente, 28,5% e 3,91%.
De acordo com a médica Taís Matos, integrante da Rede de Médicas e Médicos Populares, a desigualdade social presente em Fortaleza corrobora com o avanço da pandemia. "Existem bairros em que o saneamento básico é quase inexistente. Atrelado a isso, as pessoas vivem numa situação econômica bastante dura, então fica muito difícil fazer isolamento social nessas condições, e isso acaba gerando essa vulnerabilidade em relação ao coronavírus. Um local em que as pessoas vivem do comércio informal, e que não tem como vender, não tem recursos para comprar insumos para a higiene pessoal”, relata.
Ainda segundo Matos, nos bairros periféricos é comum a situação de várias famílias dividirem a mesma casa, o que também dificulta o isolamento social.
Na questão da estrutura de saúde, segundo Matos, há uma rede fortalecida de assistência nas unidades de saúde, sendo presente na maioria dos bairros, no entanto, ela pontua que existem conflitos territoriais que impendem que pessoas frequentem algumas unidades de saúde, por conta de disputas no território, mas as pessoas ainda conseguem ter acesso à atenção básica de saúde. "É importante que haja um fortalecimento da atenção básica, que é a porta de entrada, as unidades de saúde da família. Havendo um incremento na atenção primária, e havendo equipamentos de proteção individual para os trabalhadores da saúde, esse impacto pode ser menor nas periferias", aponta.
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Ronnie Silva, adverte que os problemas constatados na pesquisa são de caráter estruturais, havendo a necessidade de políticas públicas de longo prazo para que possam ser sanados.
Todavia, afirma que é necessário agir no momento da pandemia, elencando programas de transferência de renda mais intensos nas cidades com grau superior de vulnerabilidade perante o coronavírus, como uma possibilidade para reduzir o impacto da doença nesses municípios.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Leandro Melito e Monyse Ravena