O governador do Pará, Helder Barbalho, anunciou na última quarta-feira (22) que 91% dos leitos de UTI do estado estavam ocupados. Como medida de enfrentamento à pandemia da covid-19, ele anunciou que convocará 86 médicos cubanos, que moram no estado, para ajudar no combate à doença. O Brasil de Fato conversou com um médico cubano que mora em Ponta de Pedras, no arquipélago do Marajó e espera desde março para voltar a trabalhar como médico. Ele diz que está ansioso para poder ajudar as pessoas, mas ainda não foi chamado pelo governo.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) até este sábado (25), o Pará tinha 1.579 casos confirmados e 87 mortos. Na última terça-feira (21), a Policlínica Metropolitana, na capital do estado, fechou as portas devido à grande demanda. Somente naquele dia, o espaço atendeu 380 pacientes e realizou oito transferências para o Hospital de Campanha do Hangar. No mesmo dia, Barbalho admitiu que só havia 16 leitos de UTI vagos.
:: Entidades médicas responsabilizam governo do Amazonas por colapso na saúde ::
Raymond Garcia, que mora no Brasil desde 2016, em Ponta de Pedras, no arquipélago do Marajó, é formado pela Faculdade de Medicina Dr. Salvador Allende, em Havana. Na capital cubana, ele trabalhava justamente no setor de emergência.
"Eu sou um dos médicos que ficou no Brasil após o fim da parceria Brasil-Cuba em novembro de 2018. Fiquei na lista dos médicos aptos para voltar a trabalhar. Eu tenho habilitação para isso. Estou disposto a trabalhar entre os 86 médicos cubanos que o governador Helder Barbalho mencionou. Não entendo como ainda não fui convocado", indaga ele.
:: Sem EPIs, trabalhadores fecham unidade de saúde e bloqueiam avenida em Belém (PA) ::
O governador do Pará afirma que os cubanos irão atuar em hospitais do governo e em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) das Prefeituras da região metropolitana. Até o momento, o governo anuncia que foram chamados 36 profissionais, mas não deu explicações sobre os outros 50 médicos.
Fim do Mais Médicos
O Programa Mais Médicos foi um dos desmontes na saúde promovido pelo governo Bolsonaro na época em que Luiz Henrique Mandetta estava à frente do Ministério da Saúde. O Mais Médicos chegou a ter 18.240 profissionais levando atendimento básico de saúde para mais de 60 milhões de brasileiros.
No Pará, de 2013 a 2018, atuavam 542 médicos cubanos O estado conta com 144 municípios. Destes, 59 eram exclusivamente atendidos por cubanos, assim como quatro Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs): Altamira, Guamá, Tocantins e Rio Tapajós.
Enquanto aguarda uma posição, o médico Raymond trabalha como balconista em uma farmácia de Ponta de Pedras. O município é considerado de extrema pobreza e, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de mortalidade infantil na cidade é 17,24 para mil nascidos vivos.
:: Enfermeira morre em MG e levanta mais críticas sobre falta de EPIs em hospitais ::
A chamada dos médicos de Cuba foi autorizada pela Procuradoria-Geral do Pará. O parecer jurídico tem base na Lei Complementar Estadual nº 131, de 16 de abril de 2020, que trata sobre a contratação temporária necessária ao enfrentamento da pandemia no Pará.
Em março deste ano, Raymond Garcia teve seu nome publicado na lista de médicos cubano aptos a serem incorporados no programa. No dia 26 do mesmo mês, o cronograma do retorno dos médicos foi divulgado pelo Ministério da Saúde, que previa, até 20 de abril, a reincorporação dos profissionais.
"A primeira coisa que pedem é a habilitação de médico e eu tenho. Além disso, não tenho onde me queixar. Faz mais de 40 dias que o prefeito não está na cidade e o presidente da Câmara de Vereadores também. Nos lugares que posso me queixar, não consigo. Só quem pode fornecer o que preciso é o secretário de saúde e ele se negou. Totalmente injusto quando eu quero me apresentar voluntariamente na luta contra o coronavírus", diz o cubano.
Edição: Douglas Matos