Os municípios da Baixada Fluminense registraram mais mortes decorrentes da covid-19 que a capital do Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 25 de abril. Na semana passada, um relatório da Fundação Perseu Abramo mostrou que diversos fatores colaboram para a maior vulnerabilidade da região, a exemplo dos serviços de saúde, da infraestrutura sanitária e da alta densidade demográfica.
Mas um outro estudo, desta vez publicado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), acrescenta que o trânsito entre moradores da Baixada que viajam diariamente para a Zona Sul da capital para trabalhar pode ser mais um responsável pelas infecções. A disseminação do coronavírus teve início entre pessoas que chegaram do exterior.
“Se os números de óbitos estiverem minimamente próximos da realidade, cada habitante da Baixada que se desloca cotidianamente para a Zona Sul para exercer o seu trabalho aumenta sua exposição num grau similar ao de uma viagem à Alemanha”, afirma um trecho do documento, assinado pelo professor Alexandre Fortes, do Departamento de História do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ.
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Chama a atenção o número de mortes em relação ao número de casos nos municípios da Baixada. Segundo dados do último sábado (25) da Secretaria estadual de Saúde, na capital fluminense não chega a 10% o número de óbitos (367) entre os casos oficiais (4.481), enquanto Duque de Caxias tem mais de 20% de mortes (63) entre os 278 casos registrados.
Um olhar mais próximo para a Zona Sul carioca, onde está concentrada a população com maior renda, evidencia o contraste com a Baixada, também dentro da região metropolitana. “A maior efetividade do distanciamento social propiciada pelas condições de vida e pelo acesso à informação científica podem ter contribuído para retardar a transmissão a partir da Zona Sul para as demais áreas”, afirma outro trecho do estudo da UFRRJ.
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Fator pobreza
Para o coordenador do Fórum Grita Baixada, Adriano de Araújo, a região, que abrange municípios como Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Mesquita, Nilópolis e São João de Meriti, entre outros, possui território relativamente pequeno e população grande, o que explica a alta densidade demográfica. Esse fator se soma à maior taxa de pobreza e, consequentemente, à aglomeração de casas nas periferias.
“Já está provado que a aglomeração de pessoas é potencialmente grave para a expansão da covid-19. E o problema da subnotificação da doença se torna ainda mais agudo na Baixada Fluminense, região historicamente desprovida de serviços públicos de qualidade no campo da saúde, do saneamento básico, no acesso à água. Então, a gente estima que a situação seja bem pior do que os números vêm mostrando”, avalia o coordenador do Grita Baixada.
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Dados recentes divulgados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estimam que os casos não reportados às instituições de saúde e aos governos locais e federal podem ser de cinco a dez vezes mais que os casos oficiais. Com 61.639 casos confirmados e 4.200 mortes registrados até o último domingo (26), o Brasil poderia ter, na verdade, até 600 mil casos.
No relatório da Perseu Abramo, São João de Meriti, com 472 mil habitantes, é o município mais vulnerável do Brasil. A região da Baixada registrou 128 pacientes com covid-19 e 10 mortes decorrentes da doença. Nilópolis, com 162 mil habitantes, 47 casos e três mortes, ocupa a 4ª posição em vulnerabilidade no ranking nacional. Mesquita e Belford Roxo também aparecem entre as 30 cidades mais vulneráveis e São Gonçalo (158 casos e 19 mortes), que não faz parte da Baixada, ocupa a 15ª posição.
Medidas
A demora para o decreto da quarentena, a falta de fiscalização das prefeituras e a pressão de grupos milicianos para que os comércios se mantivessem abertos e continuassem pagando taxas ilegais de funcionamento são outros fatores para a explosão de casos. Em Caxias, por exemplo, o prefeito Washington Reis (MDB) não tomou nenhuma medida e disse que a cura viria das igrejas.
O coordenador do Fórum Grita Baixada, Adriano Araújo, defende que os prefeitos realizem testes com a população, acionem o Ministério Público nos casos de desabastecimento de água nos bairros e pressionem e fiscalizem o comércio para cumprimento efetivo da quarentena. Ele contou que os moradores estão aderindo às mudanças e a sociedade civil também está mais organizada.
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“O Fórum hoje, numa parceria com o Viva Rio, articula cerca de 40 núcleos na Baixada que fazem o cadastramento de famílias vulneráveis e cada núcleo desse atinge 50 famílias. Essa parceria para doações se dá com o mercado local e a gente tem apoiado campanhas de arrecadação de alimentos. Nesses últimos dias, vimos uma agilidade muito grande da sociedade civil para a ação”, diz Araújo.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Vivian Virissimo