Sentimento de sufoco, desânimo e até apatia tem abatido muita gente nessa quarentena. O isolamento social de combate ao coronavírus tem revelado à população como os seres humanos precisam se relacionar, fator que a interação virtual muitas vezes não dá conta, principalmente quando se trata de afeto.
No entanto, um grupo de voluntários, que há muitos anos trabalham, organizam e conhecem as necessidades do povo brasileiro e, de modo mais específico, paraibano, está colocando em prática a palavra amor e fazendo valer a verdadeira solidariedade.
:: Eclodem campanhas de solidariedade à população em quarentena na Paraíba ::
A iniciativa faz parte de uma rede, que foi constituída nacionalmente, junto aos movimentos sociais que defendem os mais vulneráveis da população brasileira, auxiliando-os em busca de direitos e dignidade humana. É a Rede Periferia Viva, ação nacional que engloba vários movimentos sociais e entidades que se uniram para trazer a solidariedade para as vítimas do coronavírus.
A rede é composta por movimentos organizados que se uniram para pensar soluções para o colapso provocado pela crise sanitária e das necessidades das populações mais vulneráveis. Entre as entidades, estão: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), a Consulta Popular, o Levante Popular da Juventude, a Pastoral da Juventude Rural, a Marcha Mundial das Mulheres, a Rede de Médicos e Médicas Populares, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Coletivo de professores Adélia de França e o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).
Inúmeras mãos que se juntam à rede, que cresce a cada quilo de feijão que chega às campanhas de solidariedade. São milhares de pessoas ampliando essa rede: Adeildos, Ritinhas, Marlenes, Raildas, Marias, Joanas, Andreas, Sílvias e muita gente que ainda vai chegar.
Iniciativas
Existe uma série de iniciativas que têm sido tomadas para tentar apoiar as pessoas que muitas vezes são invisíveis aos olhos da cidade. Gente que vive com muito pouco, casas construídas com papelão, pessoas que nem casa têm, nem CPF, mas têm vida e família, podem e merecem estar vivos e buscar melhorias e dignidade. A essas pessoas, muitas vezes totalmente anônimas, é direcionado o olhar da Periferia Viva. Uma ação que pretende acolher e mostrar que a verdadeira solidariedade se faz com quem realmente é do povo e sempre esteve com ele, com quem defende a vida, e não o lucro.
Mãos Solidárias
Começam a dar resultados ações como a campanha Mãos Solidárias — iniciativa que distribuiu caixas entre amigos e militantes da Rede para levarem aos condomínios e prédios da cidade de João Pessoa —, que têm arrecadado alimentos e materiais de higiene para distribuir à população vulnerável diante da pandemia. As primeiras doações foram recolhidas e já chegaram às mãos de quem mais precisa.
:: Campanha Mãos Solidárias deixa caixas para depósito de doações em condomínios ::
Várias ações também estão sendo promovidas pelo MTD, dentro da Rede Periferia Viva, como a Quarentena com Direitos — que distribui lona e alimentos para quem está na condição de sem-teto —, além da campanha Leite Fraterno — que, juntamente com o MST e o Ministério Público Federal (MPF), distribuiu 8 mil litros de leite em João Pessoa e na região metropolitana da capital para quem está enfrentando dificuldades financeiras. Foi o caso das mães de crianças com microcefalia e o Hospital Padre Zé, além dos ambulantes e das diversas comunidades de periferia de João Pessoa.
25 de abril
O último sábado (25) foi dia de mais uma ação conjunta de solidariedade. Os alimentos, recolhidos pela campanha Mãos Solidárias, foram entregues na comunidade Thiago Nery, em Mangabeira; e na comunidade São Pedro, no Bairro dos Novaes.
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O MTD entregou as cestas básicas, a Marcha Mundial das Mulheres doou sabão líquido, o Projeto Amigos em Ação da Paraíba distribuiu quentinhas. Tudo em um só dia. É assim que a Rede Periferia Viva funciona, os movimentos dando as mãos, junto com as cidadãs e os cidadãos que doaram alimentos, para que a ajuda mais completa possível chegue aonde mais se necessita.
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“A ação marcou mais um dia de atividades no nosso estado, onde reafirmamos a luta por direitos. É neste momento que precisamos focar na solidariedade”, disse Luana Carolina, militante do MTD, que dispôs sua vida a serviço do povo na luta contra o Coronavírus.
O que move os apoiadores
Para Bárbara Zen, o que a move é o amor. Outro jovem que há mais de 20 dias está empenhando força e energia para arrecadar alimentos e apoiar as comunidades é John Jerônimo. “É necessário que nós ajudemos o próximo para que o pessoal que está na comunidade tenha ao menos seus direitos garantidos nessa quarentena, por isso é importante o acesso à alimentação, à energia, à água, aos produtos de higiene, à mascara. E eu não acho que estou arriscando a vida, pois estamos todos tomando os devidos cuidados: usando máscara, gel, fazendo a esterilização dos pés e a limpeza do ambiente e tendo uma boa alimentação”, declarou John.
Para Alex Viana Monteiro, militante que está nesse processo intenso de solidariedade, é difícil responder a essa pergunta. "O 'eu' fica muito visível nesse recorte e posso falar de como eu me sinto aqui, na brigada Paula Oliveira Adissi, onde o 'eu' é parte do risco, sabe? Acho que não é se arriscar pelos outros, e sim se arriscar com os outros e garantir que os mais vulneráveis tenham acesso a seus direitos e sejam atendidos em suas necessidades. Penso que nesse processo tendemos a olhar mais para o coletivo. Todos aqui têm se reconhecido um no outro e o processo todo, inclusive o cuidado pra evitar o contágio, é mais coletivo", explicou.
Além deles, há muitos outros na linha de frente dessas iniciativas, como Antônio Sobreira, Marquinhos, Gleyson. Uma rede com nomes que acreditam que o Brasil só pode derrotar o coronavírus se o povo brasileiro puder ter a dignidade de ser feliz, de sorrir, de ter trabalho e respeito.
Fonte: BdF Paraíba
Edição: Heloisa de Sousa