Os pastéis com recheio de carne de jaca, repolho e cenoura com ricota são os mais disputados
Comprar pastel na rua está associado à comida gordurosa e de procedência duvidosa, certo? Nem sempre. Pelo menos nas primeiras horas dos sábados, quando duas feiras agroecológicas no Recife comercializam pastéis saudáveis e produzidos no primeiro sistema agroflorestal de Pernambuco, a situação é bem diferente. Das mãos caprichadas da agricultora agroecológica Lenir Perreira, mais conhecida como Dona Lenir, saem os pastéis naturais com recheio de carne de jaca, repolho e cenoura com ricota, alguns dos alimentos mais disputados nas feiras agroecológicas dos bairros das Graças e de Boa Viagem.
Os pastéis naturais de Dona Lenir são produzidos no Sítio São João, em Abreu e Lima, na Região Metropolitana de Recife. Todo o processo é feito poucas horas antes da viagem à capital pernambucana, devido a condição perecível dos produtos, sinal de alimentação sem processamentos. Já são 15 anos de um dos produtos mais conhecidos que fazem parte da variedade de produtos feitos pela agricultora.
Para dividir a comercialização em dois bairros da cidade no mesmo dia, Dona Lenir segue para as Graças, na zona norte, enquanto o genro dela, Juvenal Pereira, vai para Boa Viagem, na zona sul. A comercialização nas madrugadas e manhãs dos sábados não alimenta apenas o corpo, mas também as ideias. Há opções de levar os pastéis como encomenda ou de consumir na própria barraca, entre conversas sobre a vida, a agroecologia e propostas para um mundo mais justo e solidário. Daniela Silva é consumidora da Feira das Graças e uma das que, entre pasteis, troca conhecimentos com a agricultora no local.
"Sempre gosto de comprar seus pasteizinhos integrais de cenoura com ricota. Sua barraca é mais que um espaço de comidas gostosas, é um espaço onde as pessoas se encontram para trocar ideias e fazer sua primeira refeição matinal, regado aos diversos sucos naturais, pães de alho e de cenoura, bolo de banana, e, claro, comer os famosos pastéis integrais acompanhados da maionese vegana de alho. Super indico esse espaço, é, sem dúvida, a melhor forma de começar um belo dia de sábado", opina.
Por enquanto, movimentação no local está suspensa por conta da necessidade de isolamento social diante da pandemia do novo coronavírus. Há apenas a opção de se fazer encomendas, mas sem as conversas, músicas e encontros que afirmam que a escolha dos alimentos é um ato político. Dona Lenir explica como é a rotina no dia a dia com os consumidores.
“Pelo menos comigo e os consumidores eu considero todos como minha família. Porque temos uma conversa muito saudável, muito gostosa, e eles me dão muita segurança. Me dão a certeza de que eu estou no caminho certo. Como trocamos muitas conversas, eu sinto que são pessoas que eu transmito confiança e eu tenho a deles. Isso é uma coisa que não tem preço e que hoje, infelizmente, com essa pandemia que está acontecendo, está me fazendo uma falta muito grande”, salienta.
Para adaptar o momento sem comercialização presencial, aproveitamos o contato para manter uma conversa sobre a produção da massa dos pastéis naturais que fazem sucesso na capital pernambucana.
“A receita é 800 gramas de massa integral [orgânica] e 200 gramas de massa branca orgânica também; 150 ml de óleo [de girassol] e 10g de sal; prepara mais ou menos um litro de água e vai colocando aos poucos, à gosto. A massa vai estar no ponto quando estiver se soltando da mão”, explica.
Dentre os pastéis, o mais consumido ao longo desses quinze anos é o que leva recheio de carne de jaca. Inclusive, a própria agricultora também comercializa a carne de jaca de forma individual, sempre explicando os benefícios de proteínas e fibras que a fruta disponibiliza.
Na capital pernambucana, a feira do bairro das Graças está localizada na Rua Souza de Andrade. Em Boa Viagem, a feira agroecológica funciona no Primeiro jardim, na Praça Jules Rimet. Ambas iniciam suas atividades a partir das 3h da madrugada, funcionando até as 9h da manhã do sábado.
Edição: Douglas Matos