Dia de luta, assim é conhecido o 1º de Maio. A sua origem remonta a greve geral preconizada por trabalhadores norte-americanos. Naquele momento se batalhava pela redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Até então, a realidade vivida pelos trabalhadores era de uma jornada exaustiva de até 15h por dia, em um momento que não se gozava de qualquer outro direito, como férias, aposentadorias ou indenizações por acidente de trabalho.
Munidos pela vontade de mudar a sua realidade, os trabalhadores norte-americanos se uniram para lutar contra a exploração da época, marcando uma greve geral no 1º de Maio, de 1886. Passados 6 anos do exemplo e sacrifício desses trabalhadores e trabalhadoras, em 1892, o Brasil realiza seu primeiro ato para celebrar o Dia dos Trabalhadores. Um ano antes, a Segunda Internacional Socialista havia definido o 1º de Maio como uma data Internacional de Lutas.
Acostumados a participar de grandes atos de ruas para reivindicar por direitos e celebrar a data, os trabalhadores e trabalhadoras se viram obrigados a se reinventar nesse contexto de pandemia da Covid-19. Em 2020, os atos se transformaram em grandes ações de solidariedade por todo país.
Além disso, a CUT, Força Sindical, UGT, CSB, CGTB, NCST, Intersindical e as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo organizaram um ato virtual e cultural mobilizando centenas de artistas para defender as bandeiras da democracia, o SUS, a expansão do auxílio emergencial e pela manutenção dos direitos trabalhistas.
A presidenta da CUT-RN, Eliane Bandeira, comenta que o atual momento é de grandes desafios para o trabalhador. “O 1º de Maio sempre significou um dia de luta, onde a classe trabalhadora ocupava as ruas. Nessa atual conjuntura, vemos um outro formato de luta, por meio das redes sociais e do ambiente virtual”, a sindicalista acrescenta ainda que o principal instrumento de luta dos trabalhadores é a organização sindical e que em nenhum momento não se pode esquecer “a importância do trabalhador. É ele quem movimenta a economia e quem produz riqueza”, define.
Campanha Periferia Viva
A campanha que marca o Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora ocorrerá até o fim da pandemia. Ela faz parte de uma iniciativa nacional dos movimentos populares do campo e da cidade, de sindicatos e entidades sociais, que juntos entenderam que para enfrentar o Novo Coronavírus, a solução está na unidade de ação e na solidariedade de classe.
No atual contexto da pandemia quem mais sofre são aqueles que vivem nas periferias brasileiras e que, sobretudo, estão em situação de vulnerabilidade.
Aproveitando o dia dos trabalhadores, a campanha Periferia Viva foi lançada nacionalmente, como "1º de Maio Solidário". No RN, as ações de solidariedade foram organizadas pela Frente Brasil Popular, contando com diversos movimentos de juventude, mulheres e camponeses. As ações chegaram a 17 municípios do estado, onde foram distribuídas cestas básicas e materiais de limpeza e higiene pessoal. Entre os municípios beneficiados estão Natal, Ceará Mirim, Mossoró, Assu, Upanema, Messias Targino, Janduís, Governador Dix-Sept Rosado, Santa Cruz, Apodi, Caraúbas, Currais Novos, Areia Branca, Tibau, Baía Formosa, São Miguel do Gostoso e Baraúna.
Para Mara Farias, militante do Levante Popular da Juventude, as ações para o enfrentamento da pandemia são de “responsabilidade coletiva” e se dá num contexto de crise ampla, onde um dos grupos mais afetados é a juventude brasileira. “Estamos vivendo um período de crise econômica forte no Brasil, desde que ela aflorou, a juventude foi a principal atingida, pois são os que mais ocupam espaços não formais de trabalho ou não tem nenhum tipo de renda, esses jovens que vivem em situação de vulnerabilidade social também são atingidos pela violência e pela falta de políticas públicas. A pandemia para a juventude da periferia significa se arriscar em trabalhos cada vez mais precarizados e que se ampliam”, aponta.
Outro grupo afetado são as mulheres. Pesquisas apontam que no contexto de isolamento social, a violência doméstica cresceu 22% só na região metropolitana de Natal, segundo dados divulgados pela promotora Erica Canuto, coordenadora do Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de Violência do Ministério Público do RN (MPRN).
Pammela Assunção, militante das Amélias: Mulheres do projeto popular, afirma que a situação é preocupante. “A realidade das mulheres da periferia se agrava nesse momento. O isolamento social acaba deixando as mulheres mais vulneráveis frente a sua família e comunidade, o que aumenta as contradições do seu cotidiano. Por isso, se percebe a violência doméstica, a sobrecarga de trabalho e processos de adoecimento".
Nesse contexto, as ações de solidariedade, segundo ela, vêm para reafirmar um valor que "nos transforma enquanto sujeitas dentro de uma sociedade capitalista e também patriarcal. A solidariedade nos permite entender que a minha realidade é também a de outras e por meio da organização coletiva podemos enfrentar com coragem a condição de ser mulher trabalhadora na quebrada”.
Vanuza Macedo, da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no RN, aponta que as ações de solidariedade estão acontecendo junto ao movimento, porque para os sem terra "é momento de compartilhar. O trabalhador do campo produz na terra e não compartilha apenas o que sobra, compartilha o que tem, com prazer. As doações vêm dos nossos assentamentos e contam com o apoio dos nossos acampamentos". Segundo a liderança campesina, em Ceará Mirim, as cestas básicas foram doadas para duas Comunas (forma de organização de trabalho e moradia do movimento), a Fidel Castro e a Jacilene, beneficiando cerca de 70 famílias.
Complementando, Rosa Maria, direção estadual sem terra, comenta que as “ações de solidariedade do MST tentam convergir para a nossa missão que é produzir alimentos saudáveis para a classe trabalhadora. Nossa base se encontra em quarentena produtiva." Rosa afirma ainda que o movimento "entende a necessidade de que medidas emergenciais de fortalecimento da agricultura familiar e da reforma agrária popular sejam tomadas, para garantia de produção de alimentos para o nosso povo".
Segundo Rosa, "a campanha parte da necessidade de resistir as tentativas de morte e exclusão históricas da maioria do povo brasileiro. O desafio que se desenha é a construção da saída da crise a partir da solidariedade entre a própria classe trabalhadora, construindo alternativas coletivas de resistência”.
Como contribuir
Em Natal, as doações de material de limpeza e produtos para cesta básica poderão ser entregues na Central Única de Trabalhadores – CUT, sediada na Rua Apodi, 156, no bairro Cidade Alta. Os produtos podem ser entregues de segunda a sexta, das 11h às 14h. As doações financeiras poderão ser feitas a partir de transferência bancária para contas do Banco do Brasil e Nubank. Para ter mais informações sobre os dados bancários acesse aqui.
No município de Ceará Mirim as doações de material de limpeza e alimentos poderão ser entregues no Centro de Ensino e Formação Patativa do Assaré, na rua Projetada. Nos demais municípios, os sindicatos rurais estão se organizando para receber as doações.