ANÁLISE

Artigo | Globo e grupos neofascistas lançam "campanha presidencial" de Sergio Moro

"O 'morismo' conta com os poderosos canhões de luz da Rede Globo, projetando Moro diariamente em seus telejornais"

Curitiba (PR) |
Essa nascente “tropa de choque” de Moro não se fez de rogada e já mostrou neste sábado - Giorgia Prates

O mesmo modus operandi, as mesmas fontes de financiamento, as mesmas digitais programáticas, que outrora impulsionaram a nascente campanha presidencial do então deputado federal Jair Bolsonaro em 2017-2018, convergem para estruturar um braço político para o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

Trata-se de uma operação política que aposta as suas fichas no esboroamento do governo Bolsonaro e prepara a construção narrativa para consolidar o “herói” redentor que vai combater a corrupção dos políticos, o petismo, defender o liberalismo econômico e zelar pela segurança dos brasileiros – motes principais da pregação do ex-comandante da Lava Jato.

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Movimentos e grupos como “Brasil Estou Aqui”, “Laços de Apoio ao Brasil”, “Lava Togas” e “Vem Pra Rua” constituem o núcleo inicial das tropas moristas, que enfrentam no momento uma guerra pelo espólio da narrativa que catapultou Bolsonaro à presidência da República.

Além dessa estrutura subterrânea, o “morismo’ conta com os poderosos canhões de luz da Rede Globo, projetando Moro diariamente em seus telejornais. E também com uma vasta rede de apoio organizada nas diversas instâncias do aparelho judiciário e dos órgãos de controle, inclusive na Polícia Federal – foco inicial do rompimento com o governo de Bolsonaro.

Além dessa estrutura subterrânea, o “morismo’ conta com os poderosos canhões de luz da Rede Globo, projetando Moro diariamente em seus telejornais.

Essa nascente “tropa de choque” de Moro não se fez de rogada e já mostrou neste sábado (2) que tem a disposição de brigar pela imagem de seu líder. Todos viram nas redes sociais as cenas do pugilato entre os apoiadores de Bolsonaro e de Moro na frente da sede da Polícia Federal no bairro da Santa Cândida, zona norte de Curitiba – local que testemunhou a saga da Vigília Lula Livre.

Todos viram nas redes sociais as cenas do pugilato entre os apoiadores de Bolsonaro e de Moro na frente da sede da Polícia Federal no bairro da Santa Cândida, zona norte de Curitiba – local que testemunhou a saga da Vigília Lula Livre

Nesse feriado prolongado de 1º de maio, outdoors de apoio ao ex-ministro Sergio Moro apareceram em diversas regiões de Curitiba, principalmente nos bairros da classe média alta curitibana como Jardim Social, Batel, Bigorrilho-Champagnat, Alto da XV, Mercês, Juvevê, Bom Retiro e Jardim América – sólidos redutos de apoio ao lavajatismo.

A operação Lava Jato, que foi uma espécie de “cavalo de troia” do golpismo, espargiu de seu ventre a crítica feroz e sistemática ao modelo político-partidário oriundo da redemocratização de 1988, responsabilizado por todas as mazelas do país, o que favoreceu a expansão de uma vasta corrente política de direita, neoliberal e, visceralmente, antipetista – e contra as teses de esquerda em geral – espalhada em diversas camadas da população, mais consolidada nas classes médias urbanas e rurais. Bolsonaro soube capitalizar essa onda política conservadora, engolindo a velha direita e derrotando nas urnas o petismo -, com Lula aprisionado e proscrito politicamente.

No momento, Moro enfrenta uma luta feroz contra o chamado “bolsonarismo raiz” e lança sinais em direção ao bloco político que reúne a direita tradicional, que ainda se encontra dividida quanto ao que fazer com Bolsonaro, hesitando em assumir os mecanismos legais e constitucionais para abreviar a nefasta existência do governo da extrema-direita.

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A conjuntura, marcada pela polarização política e atravessada por uma crise econômica e sanitária sem precedentes, agravada mais ainda pela pandemia do coronavírus, abriu um novo período de forte turbulência e de extrema volatilidade, provocando um processo de decantação na extrema-direita e com impactos na velha direita. O rompimento de Moro é parte integrante desse processo em curso.

É necessário levar em conta o fator Moro. Subestimá-lo será repetir o erro grave que a direita tradicional e a esquerda cometeram quando defendiam a tese de que Bolsonaro seria derrotado por qualquer candidato em um eventual segundo turno nas eleições presidenciais de 2018.

*Milton Alves é ativista político e social; autor do livro "A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT".

Fonte: BdF Paraná

Edição: Pedro Carrano e Camila Maciel