A última atualização do boletim epidemiológico divulgado pelo governo do Ceará no IntegraSUS mostra que o estado tem 13.888 casos confirmados de coronavírus com um total de 903 mortes. A capital cearense, Fortaleza, lidera o número de casos, com 9.692 infectados e 696 óbitos.
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O boletim da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, divulgado no dia 4, por sua vez, mostra que Fortaleza registrou 532 mortes por coronavírus. A periferia da capital concentra os maiores índices de casos confirmados. A diferença nos números ocorre porque a divulgação da prefeitura é semanal.
A fotógrafa Micaela Menezes mora no bairro Barra do Ceará, na zona oeste da cidade, e conta que o respeito à quarentena na região onde mora está bem ruim. “Se o seu caminho for pela praia, você percebe que desde o começo da quarentena não houve respeito nenhum. Domingo precisei ir ao supermercado e vi ainda muita gente sem máscara, nos bares e praças batendo papo. Teve quem nem respeitasse a distância na fila. Espero que essa rigidez sirva pra corrigir isso”, apontou.
Questionada sobre o porquê de algumas pessoas ainda não aderirem ao isolamento, Micaela aponta alguns fatores. “O principal é o estímulo contrário do poder governamental maior do país, que sempre que pode faz questão de descredibilizar e relativizar qualquer meio confiável de informação, sejam jornais, universidades, institutos de pesquisa. A outra é que tem muita gente que usa a interação social como muleta psicológica. Tem também o pessoal que, mesmo não sendo serviço essencial, precisa ‘caçar’ o pão de cada dia, que é outra conversa mais longa”.
Micaela fala sobre os cuidados que está tomando no cotidiano. “Eu só saio de casa com máscara, procuro também usar luvas, que ajuda a não levar a mão ao rosto, higienizo tudo quando chego em casa com álcool, tento limpar o quarto duas vezes na semana e tento sempre conscientizar quem mora comigo, porque eles se deixam muito levar pelas palavras de descrédito do governo federal”, relata.
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Tiago Ribeiro é produtor cultural da Candeeiro Cultural e morador do bairro Vincente Pinzón, na região leste da capital. Ele fala sobre a importância da quarentena. “É pela preservação da vida, em respeito aos profissionais de saúde, pela possibilidade do cuidar do próximo, afinal é um leito de UTI a menos para ser ocupado. É um ato contra a ignorância, o extermínio dos mais vulneráveis e de ir de contra a opressão e a exploração nesse momento”, defende.
Para ele, a realidade da adesão à quarentena esbarra em determinados fatores que fazem com que as pessoas deixem de lado a importância do isolamento social, como a geografia das casas, as mensagens ambíguas do governo federal e a necessidade de trabalhar diariamente.
“Infelizmente o respeito à quarentena se dará de forma mais efetiva quando a morte estiver alastrada e, no caso dessa doença, isso é um sinal tardio e trágico. Temos a banalização da vida quando as pessoas se aglomeram na Caixa Econômica Federal, onde qualquer banco poderia ter realizado parceria e diminuído a aglomeração. Dessa forma, o bairro se encontra com uma certa normalidade, as ruas com fluxo de pessoas, algumas com máscaras, outras sem. Creio que isolamento mesmo se resume a 30% do total de moradores”, calcula.
A designer de moda Tereza Albuquerque atualmente mora com o pai, mas quase todos os dias tem que ir para a casa da mãe, que mora no bairro Pirambu, zona oeste, para cuidar do irmão. Ela explica que nessas idas e vindas percebe que a quarentena se resume ao fato de as pessoas não irem trabalhar, porque, segundo ela, continua a aglomeração nas portas de casa. “O respeito [ao isolamento] realmente está bem escasso. As pessoas estão agindo como se fossem férias de verão e o uso das máscaras é algo opcional. Não estou dizendo que todo o bairro está assim, mas a grande maioria”, avalia.
Ela informa que recentemente seu pai perdeu um dos melhores amigos por causa do coronavírus e descobriu que uma amiga do ensino médio também foi diagnosticada.
Tereza afirma que está tomando os cuidados necessários. “O uso da máscara e do álcool em gel já virou rotina. Mas junto a isso é sair só se necessário mesmo e, se tiver que sair, quando chego, a primeira coisa que faço é tomar um bom banho, lavar a roupa que usei e a máscara, se não for descartável”, relata. Ela explica que todo esse cuidado também é importante porque ela tem avó e irmãos mais novos, por isso preocupação em evitar a proliferação da contaminação.
Antes da crise ocasionada pelo coronavírus, Tereza conta que iria “abrir” sua marca, mas teve que adiar os planos para evitar o contato físico. “Como era um negócio novo, pra mim era essencial o contato físico com o cliente, o olho no olho, as propostas que a marca traria, a conversa. Mas não foi possível por conta do isolamento. No começo, optei por adiar a data de abertura por tempos pré-determinados, por exemplo, daqui a 15 dias, um mês. Mas a situação foi se agravando e agora é algo bem indeterminado. Por mais que fosse um negócio on-line, esse início teria que ser algo bem íntimo, para conquistar a confiança do cliente”, afirma.
Isolamento social mais rígido
O governador Camilo Santana (PT) e o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), anunciaram na terça-feira (5) a prorrogação do decreto de isolamento social no estado por mais 15 dias. Com isso, a quarentena segue até 20 de maio. O decreto também estabelece o isolamento social mais rígido em Fortaleza.
Confira algumas das medidas:
– Ficam vedadas a circulação de pessoas em locais ou espaços públicos, tais como praias, praças, calçadões, salvo quando em deslocamentos imprescindíveis para acessar as atividades essenciais;
– Controle de entrada e saída de Fortaleza com municípios limites;
– As pessoas comprovadamente infectadas ou com suspeita de contágio pela covid-19 deverão permanecer em confinamento obrigatório em domicílio, em unidade hospitalar ou em outro lugar determinado pelas autoridades de saúde;
– Disponibilização de álcool 70% a clientes e funcionários, preferencialmente em gel;
– Motoristas do transporte público ou privado não devem permitir a entrada de pessoas sem o uso de máscaras.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena e Camila Maciel