Centenas de estudantes, professores e trabalhadores da Universidade Central do Equador, na capital do país, Quito, se mobilizaram fora do campus universitário no dia 5 de maio para rechaçar o gigantesco corte no orçamento do ensino superior público.
No dia 3 de maio, o governo neoliberal do presidente Lenín Moreno anunciou um corte de cerca de 100 milhões de dólares no setor para enfrentar a crise econômica agravada pela propagação da pandemia da covid-19 no país.
Apesar das fortes medidas de isolamento devido ao novo coronavírus, mais de 300 pessoas, usando máscaras e mantendo distância social, se reuniram em frente à universidade para exigir que o governo nacional revogue a medida de austeridade anunciada. Eles marcharam alguns quarteirões até a Casa da Cultura, mas foram detidos pela Polícia Nacional.
"Se não há educação, não há saúde", "A quarentena não vai nos calar", "Não aos cortes no orçamento", "Defendo a universidade pública, os estudantes nas ruas", "A educação se defende", expressavam alguns dos cartazes carregados pelos manifestantes. Eles também fizeram ecoar palavras de orde contra o governo e bateram panelas e tachos.
Estudiantes de las Universidades Públicas en Ecuador, rechazan el recorte presupuestario de casi $ 98 millones. Aseguran que ese recorte tamb afectará a la salud ya que el 70% de internos rotativos trabajan en Hospitales @temasteleSUR pic.twitter.com/wvNFnte5RM— Denisse Herrera (@denisseteleSUR) May 5, 2020
Desde o dia 4 de maio, várias instituições de ensino superior vêm expressando desacordo em relação à medida, argumentando que o corte afetará principalmente a pesquisa e a geração de conhecimento.
A Federação de Estudantes Universitários do Equador (FEUE) considerou a medida inconstitucional e ressaltou que a educação e as instituições científicas são de vital importância para enfrentar a epidemia do coronavírus.
A própria Universidade Central do Equador afirmou, em uma declaração, que esta ação constituía um ataque e que sua aplicação levaria à "demissão de professores e demais trabalhadores, o que afetaria o desenvolvimento acadêmico, a pesquisa e a produção do conhecimento científico".
A Escola Politécnica Nacional (EPN) também expressou sua preocupação com a redução de seu orçamento e descreveu a decisão como "unilateral e sem consulta". A universidade pública também afirma que a medida impactará na folha de pagamento dos professores e funcionários.
A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), a maior organização indígena do país, também rejeitou a medida e denunciou a sua implementação em meio à emergência sanitária.
O Equador é um dos países latino-americanos mais atingidos pelo coronavírus, com 31.881 casos confirmados, 1.569 mortes e 3433 recuperações até o dia 6 de maio.
:: Cadáveres nas ruas do Equador expõem fracasso do governo em meio à pandemia ::
As políticas neoliberais de Moreno, que significaram cortes no sistema de saúde e a priorização do pagamento da dívida externa, tiveram efeitos desastrosos na capacidade de resposta do país à pandemia da COVID-19. Os corpos de vítimas do coronavírus expostos nas ruas na segunda maior cidade equatoriana, Guayaquil, é uma prova terrível disso.
No início de março, quando a propagação do coronavírus estava sob controle no país, Moreno anunciou um pacote de reformas econômicas para lidar com a situação crítica do país gerada pela pandemia. Na ocasião, movimentos sociais e cidadãos denunciaram que o governo estava usando a crise de saúde como pretexto para implementar medidas de austeridade visando favorecer a agenda do Fundo Monetário Internacional (FMI) no país.
Nesse sentido, o recente corte no orçamento da educação pública parece ser mais um movimento do governo nacional para agradar ao FMI.
Edição: Luiza Mançano